sábado, 2 de novembro de 2013

"Squeerk!"

Hoje me deu saudade...
Hoje me deu saudade de você dizendo que eu cheirava a girafa quando eu passava o dia sem tomar banho, me deu saudade do olhar de zog zog assustado com o qual você me olhava e depois ria. Me deu saudade do jeito que você entortava a boca pra dentro, franzia a testa, espremia os olhinhos e fazia "Nhiii!" e das suas crises de fofura quando via alguma coisa pequena ou fofa. Hoje me deu saudade de ver você dizendo que ia comprar um cactus toda vez que a gente via um, me deu saudade de você dizendo que ia pedir pra minha irmã trazer um cactus do México pra você, com sombreiro e maracas - você sempre mexia as mãozinhas como se tivesse com as maracas e eu ria. Eu sempre ria.
Hoje me deu saudade de te dar bronca por você comer a massa crua do nhoque ou dos dumplings. Me deu saudade da sua voz chata dizendo que o molho da macarrão tava com muita pimenta e da sua cara de alegre quando eu levava pra mesa aquele prato enorme de macarronada com uma folhinha de manjericão em cima. Hoje me deu saudade de voltar de viagem e te dar um ferrero rocher, de ir comprar as coisas pra janta e te comprar um kinder ovo e te ouvir dizer "Se o seu for mais legal que o meu ou se o meu for um quebra-cabeça, a gente troca!" e me olhar com aquele sorriso estranho.
Hoje me deu saudade do seu mal humor matinal e do jeito que você se enroscava em mim pra dormir. Hoje me deu saudade de acordar e ver você me olhando deitada ali do meu lado, espremidos numa cama onde mal cabia um e a gente ainda dividia com as gatas. Senti saudade de você me pedindo pra aumentar o som porque tava tocando uma música que você gostava. Saudade de dividir as coisas contigo, as descobertas, as músicas, os textos, as ideias.
Hoje eu senti saudade de você. Não de nós, de nós não... Não do que a gente era e deixou de ser e sim de você. Não senti vontade de voltar no tempo e resgatar as coisas, só senti vontade de te encontrar de novo e te abraçar até ouvir o osso das suas costas estralando. Senti saudade do cheiro que você tinha quando chegava em casa, senti saudade do jeito que você se despedia e do jeito que você se despia, do jeito que você gritava comigo quando eu ia morrer no Skyrim, das suas crises de tpm que sempre acabavam em chocolate e sexo. Hoje eu senti saudade do seu cabelo, dos seus olhos, das suas unhas, das suas coxas, dos seus peitos e de cada uma das suas tatuagens. E do seu pescoço. E do seu nariz... Eu sempre gostei do seu nariz. Hoje eu senti saudade de você me pedindo pra carregar suas coisas porque estavam muito pesadas. Senti saudade das idiotices que eu te dizia pra você sorrir. Senti saudades do godzilla do tamanduateí, das capivaras e do jacaré que eu pegava pra voltar pra ai.
Até do seu ódio pelo Lobão eu senti saudade. Senti saudade do seu abraço, mesmo que fosse um abraço de despedida.
E hoje eu percebi que a saudade, assim como o hoje, as uvas, as dores de dente, os carros, os ferros, e as fases do Super Mario, passa. Passa como um vento, uma brisa, e nem deixa marca por ser só. Só saudade.