sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"O sem Bolt."

Era uma sexta-feira normal, como todas as outras. A única diferença é que eu jurava que era quinta. Sério, fiquei achando que era quinta-feira até a hora do almoço, mais ou menos, quando minha irmã me mandou mensagem chamando pra ir pro rancho de uma amiga dela pra tomar um sol e dorar os pelo enquanto se observa aquela vasta imensidão azul que é o rio Sucuriú. Tudo ok né, me conectei com o cosmos e percebi que era sexta e que essa semana havia passado mais rápido que o gato à jato... "Asas batendo! Marcha de decolagem! Turbinas e já!" é genial isso!

Voltemos... Então, fomos lá pra beira do rio tomar um sol e ficar relaxando suavemente com os pézinhos na água, marcamos de voltar pra cidade às quatro, quatro e meia, pra poder dar tempo de dar uma caminhada na lagoa e tomar um tereré. Se você não mora em Três Lagoas, nem conhece essa linda e maravilhosa cidade, deve estar se perguntando se eu e minha irmã somos descendentes diretos de Jesus Cristo, afinal de contas só Jesus pra poder caminhar em cima uma lagoa... Mas não, não somos. Caminhar na lagoa, subintende-se caminhar na pista de caminhada que circunda a maior das três  lagoas maior - que é incrivelmente conhecida como Lagoa Maior. É uma maneira boa de torrar aquelas calorias do churrasco da semana passada e ver umas bundas de shortinho e uns meninos sarados a caminhar pra lá e pra cá. É claro que também tem as capivaras, o jacaré, os patos e todos esses outros bichos estranhos que também vivem por ali.

Voltamos do rancho, troquei de roupa na velocidade cinco da dança da troca de roupa e fomos andar na lagoa. Eu, minha irmã, meu ex-cunhado/cunhado/seiláquequeeleédaminhairmã e uma amiga dela. E lá estávamos nós alegres e sorridentes a caminhar tranquilamente naquele esquema de correr duzentos metros, andar duzentos metros. É a melhor maneira que tem pra pegar condicionamento físico já que a meta é fazer os dois mil e quinhentos metros da lagoa correndo e correndo e correndo. E eu estava discutindo com meu ex-cunhado/cunhado/seiláoqueeleédaminhairmã - e que eu vou chamar de cunhado pra não ter que escrever ex-cunhado/cunhado/seiláoqueeleédaminhairmã tudo de novo porque escrever isso ai dá uma canseira mental enorme - sobre Dream Theater e ele estava me falando sobre o Liquid Tension Experiment que eu nunca havia ouvido falar e que parece ser bem legal, até ai tudo corria bem, as capivaras pastavam, as bundas passavam, eu quase atropelei uma velhinha e ela me abriu um sorriso tão gostoso que valeu por toda a tragédia que ira suceder esse lindo momento. Na verdade, eu desconfio que essa velhinha é a mesma da história que eu contei outro dia e por isso aconteceu toda a tragédia...

Entre um papo de música e outro eu resolvi falar pro meu cunhado sobre HIIT e sobre as vantagens que ele trás em cima de treinamentos comuns, a minha explicação foi breve e simples "Cara, você corre igual o capiroto em dia de quermesse por uns quarenta segundos, depois anda ou trota por uns vinte, vinte e cinco segundos, ai repete isso umas dez vezes e vai pra casa dormir."  e ele com aquela cara de moleque arteiro que acabou de ver uma pipa em cima do telhado falou "Bora tentar isso ai?!" e eu, idiota como sempre, disse que era uma ótima ideia... Afinal de contas eu preciso mesmo perder peso, minha nutricionista disse que estou praticamente dois quilos acima do peso e que se eu continuar nessa rotina de passar a madrugada acordado e o dia dormindo, me alimentando mau e bebendo feito um porco endividado, dentro de dez anos eu terei morrido de enfarto no meio da balada. Fiquei realmente preocupado com esse cenário apocalíptico de destruição atômica de mim mesmo e decidi que iria correr/caminhar todo dia. Mas voltemos à questão do HIIT e de correr na velocidade da luz.

Eu olhei pro meu cunhado, ele olhou pra mim e eu disse "FRITEM O PEIXE!" mentira... Eu disse "Já!" mesmo... E a gente saiu correndo eu na velocidade da luz e ele na velocidade da luz +1. Acontece que no meio do caminho havia minha irmã e sua querida amiga, caminhando e conversando sobre cabelo, maquiagem, bobinas de tesla ou alguma coisa desse tipo e eu me vi forçado a sair da pista e ir pra grama pra não trombar nelas, acontece que sair da pista e ir pra grama implica em passar por cima do meio fio e isso é uma atividade arriscada quando se está na velocidade da luz. Passei pelo meio fio e meio segundo depois de estar pisando na grama percebi que havia trombado um pé no outro... Foi aquele momento de raiva eterna do dia, olhei pra frente e vi um mar de capivaras, olhei pro lado e vi a pista de concreto duro feito sorvete da kibon esquecido doze dias no congelador, olhei pro outro lado e vi um emaranhando de coqueiros - detalhe, nesse momento eu já estava no ar, voando como uma jaca recém arremessada de uma catapulta - e em meio à todas essas opções eu vi a grama, fofa, verde, gostosa e com cara de "Lucas! Me abrace! Por favor!" e nesse momento eu fiz minha escolha... Chapei no melhor estilho peixinho naquela grama macia, foram doze metros e quarenta e sete centímetros escorregando até parar com a cabeça em coqueiro e nesse momento eu utilizei de toda a minha artimanha cênica pra ficar colado no chão dizendo "Ó, que grama fofa, que grama maravilhosa, eu estava com tanta vontade de abraçar uma grama assim, era tudo o que eu queria pra terminar minha sexta-feira."

O tombo foi tão violento que há uns quinze minutos, enquanto tomava banho eu fui lavar o peito e saiu duas capivaras de dentro daquele matagal de pelos que eu porto na região torácica. Elas pularam pra fora gritando "Weeee!" - caso você não entenda nada sobre a ecologia capivarenha, saiba que elas sempre gritam "Weee!" antes de pular pra fora de alguma moita - me olharam com aquela carinha de capivaras assustadas e saíram pela janela. Eu tenho a impressão de que a Mitcha - aquele híbrido de onça com cão que a gente costuma chamar de "cãozinho" - devorou as bichinhas. Mas ok, menos gasto com ração.

E assim eu encerro minha sexta.