A gente escreve pra matar o tempo.
A gente escreve pra passar a dor.
A gente escreve pra matar alguém.
A gente escreve pra esquecer do amor.
A gente escreve só por escrever.
A gente escreve pra não envelhecer.
A gente escreve pre deixar marcado.
Pra deixar o recado como dado.
Pra evitar de morrer de velho e não deixar nenhum legado.
A gente escreve porque é obrigação.
A gente escreve porque Deus mandou.
A gente escreve porque é pra escrever mesmo e foda-se.
A gente escreve porque tem tesão.
A gente escreve porque tem coração.
A gente escreve porque a gente escreve.
Sem ter que justificar ou metrificar ou explicar pra quem não escreve.
A gente, simplesmente, escreve.
E mesmo quando a escrita sai torta ou errada ou feia a gente vai correndo feito criança que acabou de enfiar as mãos sujas de barro na parede branca, e fez aquela linda pintura rupestre na sala de casa, chamar alguém pra ler. Ou não.
A gente escreve pra incomodar.
A gente escreve porque esta incomodado.
A gente escreve pra ninguém ler.
A gente escreve porque sabe fazer isso ou porque acha que sabe e mesmo que não soubesse ia acabar escrevendo do mesmo jeito porque a escrita é assim. Ela é arte como todas as outras, pede prum pintor explicar porque ele pinta pede prum ator explicar porque ele atua. Eles fazem o que deve ser feito. É um sacrifício muitas vezes, um sacro ofício na maioria delas. É obrigação, é alívio, é o que for. Mas a gente escreve e segue escrevendo, mesmo que a tinta acabe e o sangue acabe e você acabe e eu acabe e os dinossauros retornem à terra e não sabiam ler. Mesmo com um meteoro do tamanho de São Paulo vindo em sua direção. Essa é a nossa benção, maldição.
Ter na cabeça ideias que se alimentam de você, caso não sejam vomitadas dedo à fora.