segunda-feira, 2 de setembro de 2013

"Comi um amor estranho e vomitei um texto."

A sensação de ver um amor morrendo por pura negligência só deve ser pior do que a sensação de saber que seu filho, tetraplégico, recém-nascido, morreu de inanição porque a sua mulher estava ocupada demais se prostituindo pra pagar o advogado que iria, teoricamente, te tirar da cadeia onde você foi parar depois de transar - à força - com a filha de dez anos do seu patrão, aquele colombiano que manda em todas as barraquinhas de venda de muamba no centro de uma cidade no interior do Ceará. E tem dias que eu acordo exatamente com essa sensação.

A depressão pós término, a dor da morte de um amor, a saída do estado de êxtase passional, os cinco estágios do luto. Todo ser humano, durante várias vezes, será obrigado a passar por isso. Alguns dizem que é o que nos faz crescer, alguns dizem que é o que nos fortalece, outros sentam e choram, eu escrevo - e posso garantir que se bater tecla resolvesse alguma coisa os atendentes de telemarketing nunca teriam problemas - e a vida segue. O habito de se colocar uma carapaça em volta de si e criar uma aura de proteção anti-ex-amor é outra estratégia defensiva "eficiente", mas fingir que uma coisa não existe não torna ela inexistente. E é exatamente tudo o que dá pra ser feito, tocar a vida em frente e seguir.

Você vai deitar e ficar remoendo as lembranças por um tempo, depois vai se revoltar e achar o mundo injusto, depois vai tentar achar uma explicação racional pra essa porra toda e no fim vai ver que essa história de que paixão dura mais ou menos dois anos é verdade. Ai você começa a olhar pra trás e tudo o que foi vivido a dois perde o brilho, o que iluminava tudo era a aura que a paixão criava. Não que não tenha existido amor, até existiu, mas foi do tipo que era alimentado por algo externo e que decidiu se dissolver diante a primeira dificuldade real que apareceu. E que agora morre por negligência. De ambas as partes.

E o amor vira memória, e os textos viram arquivos, como tantos outros textos, escritos para tantos outros amores e a minha vida que até ontem contava com casa, carro e final feliz, volta a ser a coisa volátil que sempre fora em natureza. Eu sigo em frente, eu fui feito pra seguir em frente, eu me fiz assim. Mas planejar voo solo é um saco. Viajar sem ter alguém do lado é sempre um porre, conquistar o mundo sem ter com quem dividir é algo que perde o sentido. Acho que por ter sido criado por pais que vivem felizes para sempre em seu casamento, ficou grudado em minha mente que o romantismo, os sonhos e todas essas coisas que a gente diz ser "coisa de menininha" eram - e ainda acho que são - o melhor caminho. Planejar pra dois, viver pra dois, ser dois dissolvido em um ou um dissolvido em dois. Mas a paixão passa, a relação esfria, alguma coisa morre, o jogo acaba e ninguém ficou lá pra apertar o continue. E assim eu parto pra mais uma aventura (Oi?).

No fundo no fundo a gente sabe que pouca gente vai morrer de velho e sabe também que dos que vão morrer de velho, a maioria vai morrer sozinho e é esse o nosso maior medo, morrer sozinho, jogado pras traças em alguma casa de repouso. Por isso toda essa correria pra preencher os vazios emocionais, todas as promessas de casamento e felicidade eterna. Temos medo da tristeza, da solidão e da morte. E é nessas horas que eu me lembro do célebre Marcelo Camelo cantando "Foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez?" e você nunca vai saber a resposta, porque amor mesmo a gente constrói. E já disse isso tantas vezes que tem horas que eu mesmo duvido disso e passo a achar que é algo que me impus. Mas lá nas profundezas abissais do meu subconsciente eu sei que isso é verdade, amor se faz. É fácil amar alguém quando se está apaixonado e os defeitos, mesmo enormes, são facilmente derrubáveis por meia dúzia de palavras doces. E amor sem sacrifício é amor do mesmo jeito. Amor que dura um mês é tanto amor quanto aquele que durou vinte anos ou aquele que ainda dura desde 1974. Amor é amor, a duração a gente determina.
Mas que é triste é. Ver um amor morrer definhando jogado no chão e negado por seus criadores é algo realmente triste, mas faz parte da vida. Pra mim, como pseudo-blogueiro/escritor/pensador/sonhador/romântico é realmente dolorido. Dói ali naquela região que fica entre o estômago e o esterno como se a gente tivesse tomado um chute do Anderson Silva num dia em que ele chegou em casa e te viu com a mulher dele.

Se tem solução? Tem... Mas a nossa geração - e eu me incluo nessa lista - é do tipo que prefere o atalho. Diante a morte de uma paixão existem dois caminhos a serem tomados e antes que alguém surja com outras teorias mirabolantes eu vou garantindo que só existem dois caminhos e foda-se a sua teoria.
Você pode optar pelo caminho longo e doloroso, perceber que a relação está indo pro lixo e que a paixão sumiu, vocês não se vêem mais como antes e aparentemente não se amam mais como antes e a partir daí começar a construir - dessa vez no modo hard - o amor. Esse é o caminho que nossos pais e avós e os crentes que decidiram esperar normalmente pegaram. É maior, é mais longo, é mais dolorido e não garante "vitória". O outro é o atalho e o atalho a gente conhece. Você cai pra noite, toca a vida em frente, "esquece" o amor antigo e acha outra paixão, fica mais dois ou três anos com essa pessoa, jura amor eterno, tudo de novo e de repente acabou de novo. É claro que de repente você vai olhar no espelho e ver que está com seus trinta e tantos anos e que é hora de parar, ai você escolhe o caminho mais longo. E sim, esse é o destino da nossa linda geração e eu não acho ruim não, sou entusiasta de paixão. Contraditório né? Dois parágrafos atrás eu tava falando sobre vir de um lar onde existe um casamento longo e duradouro que me faz pensar que a vida a dois é mais legal e agora eu falo que a volatilidade emocional da nossa geração é algo positivo. Nada contraditório. Amor é amor, independente do tempo que dura, se você vai construir um que dure três semanas ou setecentos anos é opção sua, se você vai construir um amor ou trinta, é opção sua também.

Com relação ao fim... Dói, dói pra cacete. Mas passa. Uma hora passa. Porque tudo passa.



- E se não passar?
- Ai fodeu... Caça um psicólogo que é obsessão.