quarta-feira, 14 de agosto de 2013

"O Futuro a mim pertence..."

Era uma tarde fria qualquer. Eu acordei e ouvi alguém fazendo barulho enquanto revirava meia dúzia de coisas pela sala. Esfreguei o olho com aquela preguiça típica de quem dormiu por mais de dois anos sem parar e olhei pra Ela que estava ali ajoelhada entre um monte de tralha e um baú vazio. Cocei minha barba, cocei meu cabelo, cocei minha barriguinha e continuei olhando. Ela começou a encher o baú com as coisas que tinha em volta de si e foi enchendo.
-Por que a gente tá junto ainda?
-Não sei... Você quem costuma ter resposta pra tudo nessa relação...
-Esse é o problema né? Eu tenho resposta pra tudo e quando me surge uma dúvida não tem quem resolva.
-A gente não tem porque estar juntos... Ficou feliz com a resposta?
-Por quanto tempo eu dormi?
-Uns dois anos ou mais...
-E você tava ali, junto, sonhando comigo?
-Tava... Mas cansei disso. Antes de acordar eu tive um pesadelo estranho, era como se estivéssemos presos em uma sala com um fliperama gigante e a gente ficava jogando aquilo sem parar e sempre que um perdia o outro ia e apertava o reset.
-Entendi... - Eu estava cabisbaixo, mas não estava triste, era um fluxo muito grande de coisa passando pela minha cabeça ao mesmo tempo pra eu poder pensar em ficar triste, não tinha como. Era indiferença, de novo. Ela pegou as coisas que tinha, enfiou no baú e pulou fora. Disse que não via futuro naquilo, que uma hora ou outra eu ia me chocar com as pedras por não ter rumo fixo, nem bussola, nem gps.
-Essa história de ficar andando a deriva não é pra mim...

Por um minuto eu fiquei ali sentado esperando alguma reação de mim mesmo e a reação veio. Eu levantei, fiz um chá, fui lá fora tomar um vento e ficou por isso mesmo. O fim é o fim. Ele chega sem você perceber, ele se apodera e toma conta da sua cabeça primeiro e te enfia ali dentro coisas as quais você estava vendo, mas não queria enxergar de maneira alguma. Depois ele vai pro seu coração e te mostra que todo aquele brilho não era natural, você via as coisas brilharem, não eram elas quem brilhavam. E por fim ele te trava as pernas e te joga de cara no chão, mas é um chão de plumas de ganso, não é um chão duro. Você nem sempre sente o baque do fim.