A nossa vida é feita de escolhas. Uou! Nunca achei que fosse escrever algo tão clichê nesse blog... Mas ok, vamos voltar à linha de raciocínio...
Há dois anos, um pouco mais, eu chegava em Santo André. Tinha lá minhas certezas, convicções e planos, tinha carreira sólida pela minha frente, um diploma - caso me esforçasse - e uma vida inteira de certezas e linhas retas, do jeito que eu nunca pedi à Deus.
Havia na atmosfera um ar diferente, estava ingressando na universidade, estava entrando para uma vida completamente diferente da minha e era hora de dizer oi à vida adulta. Não foi bem isso que aconteceu.
A universidade eu deixei pra trás, não fazia parte dos meus sonhos, a vida aqui continuou do jeito que estava e mais e mais eu fui me afundando em mim mesmo até chegar no ponto exato onde eu estou e é ai que as coisas complicam. O ponto exato onde eu estou é ponto nenhum. De pouco em pouco eu fui perdendo o chão, de pouco em pouco eu fui me desfazendo, me perdendo e agora eu terei de voltar à minha terra na ideia de me encontrar. Ninguém disse que seria fácil e nunca será.
Hoje eu vejo como é muito mais complicado esse "mito" da universidade. Não adianta, eu tenho de ir atrás de algo que me dê tesão, desde que eu entrei pra UFABC eu não me via como engenheiro, me via como qualquer coisa no futuro, menos engenheiro. Hoje eu me vejo como jornalista ou escritor ou dono de uma balada ou como alguém que vai ficar dos 20 aos 28 viajando pelo mundo, perdido, sem rumo e depois voltar e tentar se reestruturar num mundo que não é mais seu. É exatamente isso, eu não sou, nem nunca fui, um ser de certezas. Eu nunca fui alguém com um futuro brilhante e bem definido à frente e eu nunca vivi a vida adulta. Talvez, agora que eu esteja começando a sentir o gosto amargo que ela tem o medo de crescer tenha em fim me acertado. Ele já existia, ficava ali a espreita, me encarando. Mas de uns meses pra cá ele resolveu saltar em cima de mim como uma onça que avança sobre uma capivara indefesa. Mas eu não sou nenhuma capivara indefesa. E eu não sou uma planta também. Muito menos uma pedra.
Nessas horas eu não sei direito que eu sou e eu me olho no espelho e ali eu vejo um homem. Sim, um homem com muitas dúvidas e nenhuma certeza, com infinitas possibilidades pela frente e nenhum caminho reto a ser seguido, um homem. Eu olho no espelho e por trás daquela barba eu vejo que eu não sou uma planta que é fadada a ficar enraizada no mesmo lugar esperando a noite passar pra tomar sol e esperando o sol se por pra ver a lua. Eu tenho pernas e sonhos e estradas a percorrer, eu sei por onde o sol nasce e onde ele se põe e eu sei como correr atrás dele ou correr dele.
Esses poucos vinte anos de vida me fizeram chegar à conclusão de que sou eu mesmo quem me puxo pra baixo, é o medo de dar certo que me atrapalha, eu me enrosco no meu passado de propósito só pra me desculpar comigo mesmo depois.
A vida segue senhores. E eu vou com ela. Mas antes eu preciso passar em casa, pegar minha mochila, recolocar ali meus sonhos e então quando eu estiver pronto de novo, com as energias renovadas e cabeça ainda fora do lugar eu parto. Porque eu fui parido ao mundo e não fui crescido pra temer os partos e as partidas. Eu vou, alguns chamam de fuga, eu chamo de tomar um ar. Porque até o mar que é grande e forte precisa recuar antes de enviar à terra uma onda.
Que venha então o mar, as incertezas e todo o resto de coisas boas e ruins que o Destino me reserva. Que seja o que eu quiser.