Agora eu fumo
o meu cachimbo aqui, a fumaça fria me entra pela boca, eu espero ela tomar
conta de tudo, preencher o antigo gosto do café e depois solto pelo nariz,
fumar cachimbo é uma arte, não é um cigarro que se traga com pressa só pra
acalmar os nervos que pedem pela nicotina, é algo a mais. Você puxa um pouco de
tabaco que queima no fornilho e solta pela boca poesia em forma de fumaça que
preenche a sala com aquele cheiro de tabaco fresco, de vizinho velho sentado na
varanda vendo as crianças jogando bola, de avô. Não é algo pra ser feito às
pressas, não é algo pra ser feito do nada no meio da rua, acender, tragar,
esperar acabar jogar no chão e apagar com o pé... É bem mais que isso.
Mas não foi
da minha idiotice pseudo poética que eu vim falar, nem do vizinho dando partida
no seu carro a álcool agora às seis da manhã – com certeza pra ir pro trabalho –
o cheiro do álcool entra pela janela da sala, lembra infância, a época da Belina
velha que demorava horas pra ligar e que me levava pra minha escolinha, não dá
pra dizer que era uma época ruim. Existem sim passagens não muito bonitas na
infância de todo mundo, na minha foi um acidente de carro. Ninguém morreu,
ninguém se machucou, talvez um pedaço do meu medo de dirigir tenha surgido ali,
não dá pra ser preciso com isso.
A culpa não
foi do meu pai, até onde eu saiba foi o carro que pegou a gente e não nós quem
pegamos o carro, acho que ele estava tentando varar o sinal vermelho, não
estava correndo. Sorte, talvez.
Mas não foi
desse acidente que eu vim falar também.
O que me
fez voltar a escrever, depois de um bom tempo sem sequer pensar em abrir o
blog, foi a sala. O puff marrom amassado ali no canto, o hamster correndo em
sua rodinha, a televisão de quatorze polegadas com um santinho em cima, a
bandeira do Brasil, o violão parado aqui do lado e um quadro anunciando uma
tourada em espanhol. Os móveis velhos de mil e oitocentos, o chão de taco.
Essa agora
é a minha casa, a minha sala. A nossa sala.
Foi como eu disse lá em cima, fui jogado pro outro lado do planeta ainda novo, não vou ser hipócrita dizendo que enfrentei monstros malignos e perigos horrendos, meu intercâmbio foi bem tranquilo, o maior monstro que existia era a saudade e meu maior aliado foi a capacidade de encontrar abrigo em qualquer peito, encontrar um lar em qualquer sala.
Foi como eu disse lá em cima, fui jogado pro outro lado do planeta ainda novo, não vou ser hipócrita dizendo que enfrentei monstros malignos e perigos horrendos, meu intercâmbio foi bem tranquilo, o maior monstro que existia era a saudade e meu maior aliado foi a capacidade de encontrar abrigo em qualquer peito, encontrar um lar em qualquer sala.
Não sei se
já cheguei a falar sobre isso aqui, mas a maneira a qual essa meu novo lar se
criou foi um tanto quanto bizarra.
Já fui um grande fã do rock, já fui um grande fã do metal, passei por uma fase de ouvir samba, bossa nova e MPB, hoje me declaro eclético e agradeço ao Larossa por não ter opinião formada sobre o assunto.
Mas foi o rap – quem diria? – que criou o link entre eu e dois malucos que surgiram do nada em uma noite mansa. Era fevereiro e não estávamos no carnaval. Campus Party 2012...
Foi ali, citando Criolo, que começou a minha nova família. Eu ouvi alguém dizer “O bagulho é louco, o solta de rachar.” e eu intrépido como um torpedo alemão feito pra derrubar navios negreiros disse “vários de campana ali na do campim.” eles se entreolharam e depois olharam pra mim. Foi uma cena um tanto homossexual, eram dois homens se abraçando e olhando pra mim com um fone de ouvido no pescoço e um notebook no colo. Daquele momento em diante a frase “Mandei falar pra não arrastar” puxava todo o resto. Saímos pra beber, um deles me chamou de retardado por andar descalço pra lá e pra cá e o outro ficava falando sobre rugby, mulheres e cerveja.
Pra ser sincero não foi assim, mas faz tanto tempo que eu prefiro retratar desse jeito. As coisas nunca são da maneira que são e quando se tratam de memórias tudo o que podemos transmitir são as impressões que ficaram ou, quando se é um pseudoblogueiro capitão de um navio naufragante inexistente que navega o vácuo, enfeitar um simples “E ai, bora morar com a gente?” com todas essas palavras bonitas.
Nasceu ali, às duas e tantas da manhã depois de uma conversa rápida a república mais feliz do mundo, o antro de retardice e alegria conhecido pelo singelo nome de Oitoigualadê. Quem lê o nome por extenso não consegue entender e fica mais perdido ainda quando ouve alguém dizer “Quanto mais igual, melhor!”, mas eu como bom capitão que sou explico:
Oitoigualadê: 8=D
Já fui um grande fã do rock, já fui um grande fã do metal, passei por uma fase de ouvir samba, bossa nova e MPB, hoje me declaro eclético e agradeço ao Larossa por não ter opinião formada sobre o assunto.
Mas foi o rap – quem diria? – que criou o link entre eu e dois malucos que surgiram do nada em uma noite mansa. Era fevereiro e não estávamos no carnaval. Campus Party 2012...
Foi ali, citando Criolo, que começou a minha nova família. Eu ouvi alguém dizer “O bagulho é louco, o solta de rachar.” e eu intrépido como um torpedo alemão feito pra derrubar navios negreiros disse “vários de campana ali na do campim.” eles se entreolharam e depois olharam pra mim. Foi uma cena um tanto homossexual, eram dois homens se abraçando e olhando pra mim com um fone de ouvido no pescoço e um notebook no colo. Daquele momento em diante a frase “Mandei falar pra não arrastar” puxava todo o resto. Saímos pra beber, um deles me chamou de retardado por andar descalço pra lá e pra cá e o outro ficava falando sobre rugby, mulheres e cerveja.
Pra ser sincero não foi assim, mas faz tanto tempo que eu prefiro retratar desse jeito. As coisas nunca são da maneira que são e quando se tratam de memórias tudo o que podemos transmitir são as impressões que ficaram ou, quando se é um pseudoblogueiro capitão de um navio naufragante inexistente que navega o vácuo, enfeitar um simples “E ai, bora morar com a gente?” com todas essas palavras bonitas.
Nasceu ali, às duas e tantas da manhã depois de uma conversa rápida a república mais feliz do mundo, o antro de retardice e alegria conhecido pelo singelo nome de Oitoigualadê. Quem lê o nome por extenso não consegue entender e fica mais perdido ainda quando ouve alguém dizer “Quanto mais igual, melhor!”, mas eu como bom capitão que sou explico:
Oitoigualadê: 8=D
“Quanto mais igual, melhor”:
8=D, 8==D, 8====D, e por ai vai.
Eu encontrei
aqui um lar, eu fiz disso aqui um lar, me mudei na semana seguinte ao término
da Campus, não botei fé quando um deles me ligou no meio da manhã de domingo
perguntando se eu já estava com as coisas prontas pra mudança, a mala estava
toda desfeita ainda e eu nem sabia por onde começar, mas em pouco tempo e com a
ajuda do meu anjo da guarda pessoal eu acabei organizando tudo e de repente lá
estávamos nós dentro de um Astra ouvindo Sambô rumando para um lugar completamente
desconhecido.
O aluguel
não seria mais barato, mas o lugar é mais perto da faculdade e a quantidade de
gente é maior e eram seres mais estranhos.
Um urso poliglota com sérios problemas afetivos, a força de doze ou treze homens em um cara só, poder de fogo suficiente pra quebrar um quarto inteiro em seis minutos e meio durante uma fúria qualquer.
Um viciado em esportes e suplementos, costuma tomar maltodextrina com comprimidinhos estranhos como café da manhã no lugar de sucrilhos com leite. Uma bicha fresca que passa creminho antes de dormir, dotado da maior quantidade de humildade que um corpo pode carregar.
Um fantasma que vaga pela casa de madrugada vez ou outra, passa a maior parte do tempo na frente do computador e só sai de casa pra ir pro teatro... Perai, esse sou eu...
Um turista que aparece em casa a cada quinze dias, costuma hibernar por longos períodos e não acorda nem se for soterrado por uma pilha de destroços. Faz um rocambole de carne com bacon que é muito bom e eu acho que essa é a única qualidade dele... Sério.
Um príncipe hipster de terras distantes com uma certa obsessão por bebidas de alto teor alcoólico e músicas melancólicas. Se diz ateu, mas eu juro que já ouvi ele rezando uma meia dúzia de vezes e ninguém sabe ao certo quantas dúzias de mulheres já passaram pela sua cama. É mineiro...
Um urso poliglota com sérios problemas afetivos, a força de doze ou treze homens em um cara só, poder de fogo suficiente pra quebrar um quarto inteiro em seis minutos e meio durante uma fúria qualquer.
Um viciado em esportes e suplementos, costuma tomar maltodextrina com comprimidinhos estranhos como café da manhã no lugar de sucrilhos com leite. Uma bicha fresca que passa creminho antes de dormir, dotado da maior quantidade de humildade que um corpo pode carregar.
Um fantasma que vaga pela casa de madrugada vez ou outra, passa a maior parte do tempo na frente do computador e só sai de casa pra ir pro teatro... Perai, esse sou eu...
Um turista que aparece em casa a cada quinze dias, costuma hibernar por longos períodos e não acorda nem se for soterrado por uma pilha de destroços. Faz um rocambole de carne com bacon que é muito bom e eu acho que essa é a única qualidade dele... Sério.
Um príncipe hipster de terras distantes com uma certa obsessão por bebidas de alto teor alcoólico e músicas melancólicas. Se diz ateu, mas eu juro que já ouvi ele rezando uma meia dúzia de vezes e ninguém sabe ao certo quantas dúzias de mulheres já passaram pela sua cama. É mineiro...
E a nossa
mais recente aquisição... O bicho... É bicho e ponto. De longe a coisa mais
eficiente dessa casa, limpa, passa, cozinha, lava e, de quebra, não cobra nada.
Atualmente
passa as madrugadas contando causos das terras distantes das Gerais. Diz que
veio do mesmo feudo que o príncipe... Vai saber se é verdade...