quarta-feira, 19 de setembro de 2012

"Logo ali."

Sabe aquela redação obrigatória que todos escrevíamos depois das férias ainda na escolinha, ensino fundamental? Quando as meninas ainda estavam começando a desenvolver os peitinhos e nós meninos cochichávamos sobre o filme que tinha passado no cine privê da semana passada... Esse texto é mais uma delas.
Pode até ter sido uma época boa, ainda mais pro tipo de ser humano saudosista que carrega consigo a quase obrigação de viver no passado - sim, sou desses.

Minha vida sempre foi viver de passado e eu nunca escondi isso de ninguém, não considero uma falha ou defeito querer e se esforçar para manter na mente as coisas boas e ruins que se foram.
"O relógio do tempo não volta" foi o que disse o tiozinho do cachorro quente hoje para um cara que estava reclamando sobre ter pego uma amiga que era amiga demais para se tornar namorada. Eu ouvia tudo enquanto almoçava o meu delicioso dogão e bebia minha coca. Fossem outros tempos e eu estaria comendo no restaurante universitário, mas depois do rato e da decepção que eu tive comendo lá da última vez acho que só volto a encarar aquele lugar em 2013.

O tio do cachorro quente está certo - é engraçado como essas pessoas sempre estão certas, se eu pudesse sair por ai pedindo conselhos não seria para grandes CEO's ou líderes formados e sim para os tios do cachorro quente, as moças da limpeza, o velhinha do churros... Eles entendem da vida, eles vêem a vida correr diante de si o tempo todo, cada cliente, cada cachorro quente que é feito e prensado naquela chapa, cada churros que é preenchido com o doce de leite e depois mergulhado naquela mistura de açúcar com canela são entregues a um ser humano, uma vida. Eles entendem...

É claro que "O relógio do tempo não volta" é algo mais óbvio do que dizer que o Latino é mestre em destruição musical, mas foda-se, naquele momento, naquele contexto, foi algo poético e lindo e não foi sobre o tio do cachorro quente que eu vim falar.
O passado é algo muito maluco e essa minha relação com ele é que me gerou um dos maiores choques de realidade de toda a minha história, durante uma conversa com um amigo há uns três anos - um cara que eu nem sei mais onde e/ou como está. Papo vai, papo vem e eu resolvi comentar sobre como éramos felizes quando adolescentes, voltando da escola cantando legião e discutindo religião. Ele simplesmente disse que realmente, eramos, mas esse papo de pré adolescência era uma merda, esse tempo já tinha passado, eramos quase adultos já e tínhamos de deixar isso pra trás, parar de viver achando que esse tempo vai voltar, que um dia tudo vai se reorganizar e ser lindo e fofo, a vida não para, o tempo não para, o tempo não volta... Acho que até aquele dia eu nunca tinha parado pra pensar nisso de forma tão apocalíptica, pra mim esse era um tempo o qual ficaria guardado ali e poderíamos retomá-lo sempre que quiséssemos, algo sagrado, mágico, cristalizado e quase eterno. Foi então que eu percebi que o passado são só lembranças.

Por um tempo tentei lutar com isso, tentei me forçar a não viver de passado a tentar jogar as coisas sempre pra frente, olhar pra frente, mirar o futuro, esquecer o que se passou, mas parece que eu tenho raízes tão profundas e tantos casos ainda abertos para resolver, feridas que ainda nem começaram a cicatrizar por não terem tido oportunidade de se fechar. Tempo não resolve, é sério... Não adianta você esperar que o tempo resolva um problema seu, o que resolve é ir lá e resolver o problema, discutir, brigar, mandar ir se foder e quem sabe assim aliviar o peito e todo o resto. O meu problema com passado é esse, casos não resolvidos em todos os aspectos, amizades que não deram certo, amigos que desapareceram sem deixar rastro, namoradas que sumiram no dia seguinte ao término, parentes os quais eu mesmo nem lembro que existem, mas que estão lá sempre que eu olho pra trás.

E lá vem o vento de novo...