quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Patosquilo."

Eu estava estendendo as roupas no varal há pouco e percebi que mais da metade não eram peças minhas e sim d'Ela. Digo Ela com "e" maiúsculo porque não preciso citar nomes para que todos saibam quem é, é só chamar de Ela, com "e" maiúsculo.

Na metade do varal eu tive aquele lampejo mágico de que se isso é vida de casado talvez eu esteja realmente sendo um cara feliz, sem perceber.  É claro que morar junto, se ver todo dia e ter de dormir com essa coisa ao lado, acordar no dia seguinte e sentir o bafo amanhecido dEla nunca me pareceu algo muito convidativo ou agradável, com o tempo nós tendemos a enjoar um do outro, o ser humano é assim, mas não é bem isso que está acontecendo.

O engraçado desta minha última aventura romântica é que mesmo depois de termos largado um do outro, depois da brigas e desentendimentos e de toda a merda que um jogou na cara do outro, nós ainda estamos juntos e nós ainda estávamos juntos quando solteiros, ela dormia aqui pelo menos três vezes por semana nessa época e eu sabia de todos os caras com quem ela estava saindo, assim como ela sabia de todas as meninas com quem eu estava saindo. Rolava um certo ciúme sim, houveram crises de ciúme, ela quis me matar alegando que eu a estava trocando por outra e eu quis enfiar uma rolha nela por ter dito, não com essas palavras, que tinha achado um cara que era melhor de cama do que eu.

Mas cá estamos de novo, ela lavando meu banheiro, eu lavando a roupa dela, se vendo sete dias na semana, dormindo junto quase todo santo dia, dividindo aquela pilha de colchonetes que eu chamo de cama e fazendo planos para o nosso futuro nebuloso. Mais importante do que isso, um tendo a cara de pau de olhar no fundo dos olhos um do outro e declarar amor.
Eu digo pra ela que não importa o status de relacionamento do Facebook, se seremos namorados, marido e mulher, amantes, ou somente velhos conhecidos, o que importa é que no fim da minha vida, quando eu estiver com a barba branca e encostando no umbigo, quando eu estiver velhinho, balançando na minha cadeira de balanço lá em Paranabiacaba, vendo as crianças correrem por ali jogando bolas de neve umas nas outras, eu quero que ela esteja ao meu lado. Seja fazendo crochê em sua própria cadeira de balanço e rindo da minha cara enquanto eu tento, frustradamente, colocar fumo no meu cachimbo ou simplesmente uma amiga que veio tomar um chá comigo e comer umas bolachinhas que eu mesmo fiz.

A maneira a qual nos relacionamos não importa, seja amor, ódio, raiva, ou uma ternura tão grande que as vezes eu tenho vontade de arrancar o intestino dela e me enforcar com ele de tanto amor, o importante é não nos tornarmos indiferentes um ao outro. Enquanto um estiver e tiver a vida do outro, haverá vida no outro.
Quando mais novo eu me lembro de ter prometido ao meu pai que não me casaria cedo, iria curtir a vida, aproveitar, não iria me amarrar a mulher alguma, não iria me prender. Naquela época eu estava enrolado com uma menina que morava em outra cidade, caso antigo já muito bem detalhado nesse mesmo blog, e achava que a vida seria assim pra sempre. Não tinha muita noção do que realmente era encontrar uma companheira, uma pessoa com quem você pode ser você mesmo, em essência, carne, osso e merda. Alguém que sabe exatamente onde são seus pontos fracos, alguém que já te viu em posição fetal chorando feito uma criança e tudo que ela fez foi te abraçar e chorar junto, sem querer entender, sem querer te silenciar, simplesmente abraçou e chorou junto, no meu tempo. E quando ela chorou, eu estava lá também.

Nunca achei que fosse encontrar um ser humano que iria tatuar o maior simbolo da minha e de sua infância na perna, alguém que fosse me acordar às seis da manhã pra me dar um beijo antes de ir pro trabalho. Nunca pensei que um dia eu fosse trombar com uma mulher que consegue ser mulher no melhor sentido da palavra, sendo tudo o que é pra ser, irmã, filha, namorada, amiga, amante, ficante, faxineira, mecânica, quebradora de pia, lavadoura de copo, gerente financeira, matadora de goblins, hobgoblins e zumbis.

Eu achava que eu era uma pessoa estranha, que eu não me encaixava direito no mundo - acredito que esse seja um mal de todo geek - por gostar de quadrinhos, rpg, jogos de computador, por me emocionar mais com a cena do Bane chorando no último filme do Batman do que com a cena do Jack morrendo em Titanic.
Que eu nunca iria encontrar uma mulher que conseguisse compreender isso.

Até que ela surgiu. E ela disse que ia me dar um pau no Super Mario World, não deu conta. No Donkey Kong sim, ela é melhor do que eu, admito.
Ela tinha o habito de me ver jogando Skyrim e ficar gritando comigo quando eu morria dizendo que era pra eu ter usado a magia antes, que era pra eu ter tomado a poção de vida antes, que era pra eu ter dado fast save. Ela se emocionou quando eu mandei essa música pra ela - eu to cansado de tanto perder, por isso quero jogar com um amigo.

Sabe o player dois perfeito? O healer que faltava na guild? A pessoa que quando você estiver jogando de Luigi e morrer vai pra fase da floresta farmar quarenta lifes e vai te dar metade... É ela.
Quando ela ouve um barulho no meio da madrugada em vez de me dizer que é um ladrão e que está com medo ela simplesmente diz "Lucas, deve ter um zumbi no quintal... Pega o machado." ou diz "Não olha pra janela, deve ser um E.T."

A primeira mesa de rpg onde eu joguei aqui em Santo André foi graças a ela. Com ela do lado torcendo para que meus planos dessem certo e nós conseguíssemos matar um vampiro forte pra caralho que estava protegendo três vampiras mais fortes ainda.
E num sábado qualquer ela saiu comigo pra caminhar as três e tantas da manhã, num outro sábado ela foi comigo pra puta que pariu jogar rpg e quando eu perguntei se ela tinha gostado ela me olhou com aqueles olhinhos redondos e brilhantes e disse que sim, eu não botei fé e quando cheguei em casa, do teatro, na segunda-feira ela estava lá sentada com meu note no colo, o adobe aberto com e uma meia dúzia de livros de D&D...
"Que que você ta fazendo mulher?!"
"Montando a minha ficha... Sozinha!" e deu aquele sorrisinho estranho dela. E terminou de montar a ficha.

Pois é... Estamos semi casados, ela me faz bem pra caralho e eu nunca entendi o que foi que a desgraçada viu em mim, assim como nunca vou me contentar ou achar que a estou fazendo feliz no mesmo patamar o qual ela está me fazendo feliz. O que importa é o amor... E saber navegar.