domingo, 12 de agosto de 2012

"Caindo pra cima."

Sou do tipo que ouve música pra chorar nos domingos de sol, do tipo que depois de uma briga entra embaixo do chuveiro, senta no chão em posição fetal e desidrata ali mesmo de tanto deixar escorrer esse líquido incolor e salgado dos olhos.
Acordo às vezes e percebo que são duas da tarde, sei que existe uma casa pra limpar, um quarto pra arrumar, uma pia de louça pra lavar, sei que tem roupa pra lavar, e-mails a serem lidos, livros a serem devorados, mas acima disso tudo há a melancolia, aquela tristeza quase bem vinda, esperada.

Sabe a sensação de estar só? Aquele aperto estranho entre a boca do estômago e o peito? O olhar vago, o caminhar pesado, a cabeça baixa. Esse sou eu, esse é meu mundo, às vezes colorido como o cocô de um poneicórnio que se alimenta de cupcakes feitos de amor e arco-íris e em outros dias é cinza, passivo, pacífico, passando.
Ai eu ouço Radiohead, ouço The Bad Plus, Legião Urbana e nunca entendo o que está acontecendo. Eu tenho uma namorada maravilhosa, pais maravilhosos, amigos os quais me divertem, estou a alguns passos da minha independência financeira com dezenove anos de idade, fui o primeiro da minha família a entrar em uma universidade federal, falo inglês fluente, já fui pro outro lado do mundo. Mas eu não consigo levantar do colchão alguns dias, tenho medo.

Hoje eu cheguei à essa conclusão. Não é preguiça, vagabundice, nada disso. É medo.
Vivo me escondendo em meio às sombras, vivo dizendo a mim mesmo que eu sou um merda, que não sirvo pra muita coisa, esses dias em uma conversa com um amigo meu - um desenhista foda pra caralho - eu disse que meu único talento era não ter talento e ele como a boa bicha que é deu um gritinho estridente e disse que era mesmo, da forma mais sarcástica possível e então começou a dizer que eu escrevo bem, sou um bom principiante a ator, tenho ideias malucas e uma criatividade incrível. E isso pra mim soou como "blábláblá, blábláblá, blábláblá, whiskas sachê."

Hoje caiu metade da ficha. De quarta-feira pra cá eu recebi uma quantia considerável de ligações com ofertas de emprego, os valores oferecidos eram bem interessantes, os trabalhos também, fiz duas entrevistas na sexta, tenho outra marcada pra segunda, estou em movimento. Falta muita coisa ainda. Mas caiu metade da ficha, é medo.
Ficar assim não me custa, ficar parado levando a vida de merda não dói, não custa, não preciso mudar, posso continuar sendo uma pedra, um peso na vida de todos os seres humanos que me cercam, é simples.

Mas e se? E se de uma hora pra outra eu virar outra coisa, eu mudar, eu me tornar um ser humano mais proativo, acordar sete da manhã e ir dormir às onze, fazer algum exercício, ler mais, jogar menos... E ai? E se eu me esforçar mais 10% mais 70% mais 225%? É ai que mora o problema... Enquanto você é um merda não tem problema, tudo fica na base do que é esperado, é acordar em um horário qualquer, almoçar salgadinho, abrir a geladeira e se deparar com vento gelado saindo de dentro e nada mais, pegar aquela última cerveja ali, abrir e beber antes mesmo de escovar os dentes. É fácil, não custa e você finge que está mal ou finge que se importa para que as pessoas não achem que você é um vagabundo sem coração.

Sombras, escuridão, é comodo. A luz é que é o problema... E se der certo? E se eu pegasse meu blog e transformasse num livro? Só a parte sobre Taiwan? E se eu pegasse no pé desse amigo desenhista pra gente fazer logo as histórias em quadrinho que eu tenho escritas aqui? E se eu resolver voltar pra engenharia, estudar igual gente e me tornar o cara que vai criar um carro movido a peido!? Ai eu não sei.
O medo é esse. Tenho medo de que dê certo, tenho medo da luz. Acho que me acostumei tanto a fracassar que um sucesso me assustaria, se eu rolasse o dado e saísse vinte eu acharia estranho.

Veremos o que essa semana me traz, prometi viver um dia de cada vez, prometi escrever mais também e não estou escrevendo, prometi fazer yoga, curso de programação e aprender a fazer cachorrinhos com aquelas bexigas compridas... Promessas, é só prometer e foda-se né?


Beijos... Desejem-me uma boa queda.