Pensamento filosófico da manhã de sábado:
"Os seres humanos costumam ver as relações de forma vertical. Felizes somos nós que vemos as coisas de forma horizontal, sem tanta complicação."
Explicarei...
Estamos todos condicionados, não sei por quem ou pelo o que, a um padrão de relacionamentos e tudo aquilo que está fora desse padrão nos é estranho ou complicado de se entender. Labels, tags, selos, rótulos... Esse é o grande mal do ser humano moderno, rotular tudo e todos de forma a tentar deixar as coisas mais "organizadas" e no fim ninguém organiza nada e vive-se numa falsa organização que deixa todo mundo feliz - do tronco pra cima, sempre.
Eu poderia encaixar aqui tudo que é "normatizado" pelo ser humano, tudo o que é dogmatizado, tudo que é costume, poderia falar da heteronormatividade, da religião, dos bombadinhos de academia ou do jeito que os brasileiros aceitamos a corrupção e a violência que nos cerca, mas vou falar sobre relacionamentos. É mais legal.
Nós humanos, falhos, fétidos, feios, fracos e frescos, vemos os relacionamentos mais ou menos nessa ordem:
Encontrar
Conhecer
Amizade
Ficar
Namorar
Noivar
Casar
Ser feliz para sempre.
Então, quando se pula para o próximo nível, se exclui o anterior fazendo com quem sempre que um relacionamento acaba todo o resto vai pelo ar. Uma amizade vira namoro, o namoro acaba e os dois saem de cara virada. Um namoro vira noivado, o noivado acaba e vai cada um para a sua casa chorar em baixo do chuveiro. Um noivado vira casamento, o casamento acaba e "Mês que vem te vejo no tribunal! Vagabundo!"
E é ai que entra o problema "A minha maneira de ver as coisas."
Eu não vejo relações dessa maneira, eu vivo elas de forma horizontal. É um pouco mais complicado, exige um pouco menos de orgulho e uma capacidade de enfrentar problemas anormais que nem todo mundo tem, mas no final compensa.
Compensa... Até porque, crises, brigas e outras frescuras, duram minutos, horas ou dias e quando você para e vê que viveu feliz com alguém por meses, esses dias simplesmente param de fazer sentido.
Ela te chifrou, ele te largou no altar, o cachorro da mãe dele comeu seu colar de pérolas?
Ok... Vocês foram felizes não foram? Na maior parte do tempo, preferencialmente - até porque, se você está num relacionamento e isso está te entristecendo, termina essa porra! Amar ao próximo como eu vos amei, claro, mas amar a si mesmo acima de tudo e nunca confundir amor próprio com orgulho.
Voltando à horizontealização relacionamentística.
Imagine que não existam rótulos, não existe namorar, ficar, amizade colorida, rolo. O que existe é relação. Eu me relaciono com você, você comigo, todos felizes. Existe amor também, mas isso é pra outro dia...
Agora, imagine que a relação seja um carro (sim, essa será a comparação mais idiota que você vai ler na sua vida, garanto). Imaginou?! Alguns são rosa, outros são pretos, tem uns que são brancos, mas no fundo eles são praticamente todos iguais: motor, rodas, carroceria, sistema de direção e mais meia dúzia de coisas importantes. Lindo...
Agora, imagine que esse seu carro - o Relation Mobile! - pode ser tunado, você adiciona um beijo aqui, um sexo ali, uma maneira diferente de se olhar, palavras que são ditas só para ele, gestos, segredos. Lindo também né? E fácil de compreender...
Talvez agora venha a parte complicada:
Imagine uma frota de carros. Yeah baby baby, estamos falando de amor no plural aqui, não da pra se dedicar a uma única pessoa a sua vida inteira, quando eu falei de relação lá em cima, eu incluía amigos, irmãos, pais, conhecidos. Todo ser humano carrega consigo uma frota de relações as quais o segue.
Perante a visão dos rótulos, você iria encaixar cada uma dessas relações em uma caixinha com padrões os quais devem ser seguidos para que ela se mantenha. Xingar seu pai de filho da puta não pode, ele é seu pai e não seu amigo. Namorar uma menina e beijar outra não pode, seria traição. Beijar uma pessoa que é só sua amiga não pode, ela pode confundir tudo e achar que a amizade virou outra coisa.
E tem um detalhe mais importante, se alguém agir de forma a não se encaixar naqueles padrões, FUCK! fodeu-se uma relação. É aquele papinho manjado de confiança ser algo que demora séculos para se construir e segundos para se quebrar e todo esse mimimi de gente orgulhosa que acha que se fechar é melhor maneira de não sofrer. Na linha de raciocínio lucaística da horizontalidade relacional, se você muda algo na relação é só uma simples mudança. Eu mando meu pai ir se foder e isso não é desrespeito porque eu o vejo como um ser humano racional que entende que vez ou outra a gente se estressa em vez de vê-lo como a figura paterna monstruosa que vai me sentar a mão caso eu o "desrespeite". Eu abraço mendigos - porque eles são barbudos como eu - pouco me importante se eu os conheço ou não, são seres humanos, eles choram, tem carne, osso e cagam. Se você tinha uma amizade e disso surgiram contatos físicos mais íntimos, ok! É só um gadget a mais que você instalou na relação, não tem porque mudar toda a maneira de tratamento, é só um extra e o mesmo vale para o contrário, tinham beijos e agora não tem mais, ok também. Mas todo mundo gosta de complicar as coisas, rotular as coisas. E volto a dizer o que sempre digo: essa não é a melhor ou a mais correta maneira de se viver, é só o meu ponto de vista, meu jeito de (vi)ver a vida.