Mas então, como eu disse ontem, não tive aulas mas mesmo assim acabei indo dormir cedo nesses dois dias... Onze horas e lá estava o Lucas apagado na cama, babando feito um porco azul das montanhas cententrionais do nordeste asiático.
Ontem né eu estava aqui né, ai né, meio que tipo assim eu fui né e tipo... Ah, cê sabe como é né? Tipo, eu tava com fome e tipo, sei lá né... É que, tipo, meio que, eu tava com fome e não tinha o que comer né, ai eu meio que tipo, meio que sei lá né fui e queria fazer comida, mas tipo, se sabe como é né, meio que sei lá tipo, não tinha o que fazer saca? É que tipo, saca, eu moro em Taiwan e tipo, meio que sei lá saca a comida aqui é meio estranha né? Ai tipo, sei lá saca? Fiquei meio na dúvida sobre o que fazer...
Ta, falando sério agora... Eu estava meio treladão de fome. Sabe quando o seu estômago parece que está se auto digerindo? Você escuta o bixo e acha que tem um mamute em baixo da sua cama? Pois é, era por ai mesmo. Eu parecia uma borbole sangrenta da asa amarela de tanta fome, foi então que surgiu a dúvida... O que fazer? "Quando não estão mais nem ai para você, e a sua vida não é igual a da tevê." não, não, sem música emo... O que fazer? Eu sou autorizado pelo instituto brasileiro de pilotagem foganística a pilotar todos os tipos de fogão existêntes no Brasil, de A à E e achei que aqui em Taiwan era a mesma coisa, gira a brabuleta, risca o fórsfo e bota fogo no fugão, mas nãããão. Perai, vocês não sentiram a potência do não...
Mas nãããããão!
É, não é igual... Primeiro que você gira a brabuleta incêndiária e o treco já sai aceso, é demoníaco. Segundo que não é um fogão, é uma fogueira! É um incêndio! É um ataque terrorista! É uma dinquidama! É o Bowser cuspindo fogo no Super Mario! É sério, é muito fogo. É MUITO fogo. É mutcho fuego. Its so much fire. Ta de guo. É muiotchs fogs. Dit is 'n vuur.
Deu pra compreender quão foguenta a coisa é?
Pois é... E que diferença isso faz né? Fogo é tudo fogo, esquenta do mesmo jeito... O caralho que é!
Se liguem ai então... Eu fui lá de boa como sempre, peguei uma panelinha e tals porque eu sempre cozinho em panela pequena pra não sujar muita louça, por isso que eu amo fazer miojo, em uma panela só você faz o miojo e nela mesmo você come, é simples, mágico e divertido.
Ai eu coloquei ela no fogão e tchaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaam subiu aquela labareda mortíferamente mortal, levei duas horas pra entender que em vez de abrir a borboletinha até o fim - como eu fazia no Brasil - você tem é que quase não abrir o gás. Pois é, parece óbvio mas pra mim não era...
Eu sou acostumado a ligar o fogo no mais baixo possível e jogar manteiga na panela enquanto eu pico a cebola, não dava pra fazer isso aqui. No tempo de eu picar a cebola - olha que desde que eu comecei a fazer aulas de cooking aqui e tenho cortado coisas todas semanas, eu passei a ficar rápido com isso - no tempo de eu cortar a cebola a mantega desapareceria.
E então, que que eu fui? Piquei a cebola primeiro, acendi o fogo, joguei a mantega esperei dois segundos e joguei a cebola e acelerei na velocidade da luz pra poder cortar o tomate, cortei antes das cebolas virarem carvão e já joguei na panela. Pronto, tomate solta bastante água, agora eu tinha mais ou menos uns segundos pra pensar qual seria o meu próximo passo. Foi fácil decidir, cortei outro tomate e joguei lá dentro, agora a coisa ia levar um tempo pra poder começar a pegar fogo, talvez uns quarenta e cinco segundos. Sai caçando os tempeiros, pra mim a melhor palavra que define o meu jeito de cozinhar é: "Improviso"
Acho que cozinhar, fazer sexo, solar guitarra em show de metal e explicar pra sua mãe o que que a sua prima de terceiro grau está fazendo pelada na sua cama tem isso em comum, o improviso.
Na hora em que comecei a fazer esses movimentos peristálticos de alta periculosidade eu não tinha idéia de como proceder. Sabia que iria fazer algo com tomate, cebola e só. Acontece que o tomate a cebola já estavam na panela, precisava de um extra.
Joguei sal, achei um molho de pimenta muitro loks e joguei também, olhei pra mesa e ví a minha salvação. Faltava carne na minha criação gastronômica e lá estava, em cima da mesa, uns pedaços de frango que meus pais provavelmente comeram na janta do dia anterior. Joguei na tábua de carne e chopchopchopchop piquei e já joguei na panela também. Ví umas verdurinhas estranhas e joguei lá dentro, adicionei limão e esperei mais um pouco. Estava pronta a minha obra de arte feita de tomate, cebola, frango e verduras estranhas era uma mistura de Pablo Picasso, Basquiat, Luigi Tartari com uma pitada de Parangolé e sorvete de limão.
Bonito estava, isso era certeza, cheiroso também dava pra sentir que estava, o único problema é que estava muito melequento. Joguei um queijo pra poder da uma liga enquanto o bagulho ainda estava quente, funcionou. Ainda assim, era uma meleca gosmenta com queijo, parecia uma patê ou algo assim, foi ai que surgiu a incrível idéia. Peguei um pacote de Doritos e lá fui eu usar os Doritos como pázinhas para comer o meu incrível patê de tomate com queijo, cebola, frango e verduras estranhas que mais parecia cérebro de ornitorrinco do que comida.
Beijos beijos.
Lucas Casasco, um brasileiro em Taiwan.