domingo, 4 de abril de 2010

"Welcome to Tihuana."

Janela aberta, eu olho pra rua. Windows media player ligado e está tocando Legião Urbana.
Saudade de um passado que me deixou belas cicatrizes.
Janela aberta... De longe eu vejo o símbolo do Mc Donalds e um letreiro de neon de um Hotel com o nome em Chinês, o ar entra, frio. São três da manhã e o que eu faço aqui? O mesmo de sempre. Eu penso. Agora está tocando O Teatro Mágico. E eu? Eu penso. E sigo pensando, é só isso que eu sei fazer, pensar e pensar mais. Passar horas a fio parado pensando, meditando, analizando, verificando, repensando, remexendo no báu de coisas velhas que costumamos chamar de lembranças. Vez ou outra eu choro nesse meio percurso, vez ou outra eu simplesmente dou risada sozinho mas na maioria das vezes eu fico inerte, pensando.
E é remexendo nesse báu de coisas velhas que eu encontro cenas e fotografias, situações, falas, movimentos, festas, tererés, reuniões, filmes à tarde, mensagens de celular, sorvetes e mais uma porção de coisas às quais todos nós, pelo menos os mais normais, temos em mente.
Agora volta tocar Legião Urbana e o vento fica mais frio, mas eu não vou fechar a janela, já disse aqui que eu gosto de sentir frio ele me puxa de volta pra realidade quando eu preciso voltar, é minha ancora e se um dia não existir mais frio? Prefiro então ficar perdido junto com meu baú de coisas velhas lá na Lucolándia onde tudo é mais feliz, onde os amores são mais reais, tem nhoque todo dia, a coca-cola não engorda e todo mundo tem avô. Prefiro me perder na Lucolándia vez ou outra, lá o mundo é menos poluído e você tem a opção de ser um super-herói ou um cowboy, você pode ser um perdido na mata, você pode ser um fugitivo dos terroristas chineses correndo dentro de um túnel, você pode ser quase tudo o que você quiser, desde que você não infrinja a regra principal que é : “Divirta-se sem desdivertir os outros.”
Na Lucolándia você pode falar Luconês, ou você pode falar o que você quiser, todo mundo vai te entender. Lá não existem crentes, lá não exisitiu inquisição nem nazismo, lá os negros e os brancos não se ofendem nem ficam bravos e os cinzas também convivem em harmonia com eles, portuguêses não enganam índios, crianças não são arremessadas da janela e mesmo que fossem não teria problema porque lá elas voam e o mais perto que um índio pode chegar de ser queimado vivo é se ele resolver que quer virar o homem tocha do quarteto fantástico.
Bombas atômicas? Nunca ouvimos falar delas. Raulzito está lá também junto com uma meia dúzia de outros seres, sabe o Batmam? Está lá também.
O lugar é exatamente tudo aquilo que você quer que seja, é uma terra de sonhos, é melhor até que o fantástico mundo de bob.
Esse lugar existe e é facilmente acessível, pelo menos pra mim. Eu me desconecto do mundo real e viajo pra lá quando eu preciso me reanimar, quando eu preciso voltar a enchegar o mundo do jeito que eu nunca deveria ter parado de enchergar, passo a ver como uma criança. Passo a não querer descobrir o verdadeiro sentido das coisas, começo a ver tudo com novos olhos, como se tudo aquilo que já, há tanto tempo, existe, não existisse. Passo a ser aquilo que todos nós somos a princípio, puro.
É uma pena que essa pureza dure ai só por uns segundos e a viagem costuma ser meio cara, mas no fim compensa.
Sabe o mais legal da Lucolándia? Lá existem dinossauros! E a maioria deles são roxos com pintas amarelas ou laranjas com listras verdes. Não costumam ser da cor dos dinossauros do Jurassic Park ou do Discovery. E eles são mansos e tem os dentes escovados. Os L-rex são mansos como camundongos.
Mas se engana você que pensa que lá um lugar organizado, não não, pelo contrário. Tem guerra de bola de neve todo dia, tem guerra de bola de sorvete nos dias que falta neve e quando falta sorvete a gente pode sair pra brincar na chuva que não é fria nem destrutiva. Ah! Lá não existe gripe, a menos que você queira dizer que está com gripe pra não ir na escola, ai existe. Mas é pouco provável que você vá querer matar aulas em um lugar onde uma das matérias principais é Engenharia Legolística, que alguns moradores chamam de “Brincar de Lego”.
A, mas você é um adolescente de dezessete anos que só quer saber de beber, fumar e meter um comandante do exército americano que quer meter fogo em tudo ou até mesmo um pitboyzinho de merda que só quer saber de bater nos outros e causar encrenca. Então fique longe daqui por favor.
A claro, o nosso sistema político? Anarquia. Economia? Não existe. Religião? Acredite no que você quiser desde que não ofenda aos elfos ou aos orcs que aqui vivem.
Eu sei que esse lugar é único e de uso exclusivo meu, mas eu falei como o lugar é. Agora vocês podem construir o seu próprio país, assim como eu fiz com o meu. Não esqueça de guardar ele bem guardado em um lugar onde só você possa achar.
Agora eu vou dormir porque Morpheus me chama pra bater um papo.
Beijos, seus monstrinhos feios.




Lucas Casasco, morador eterno da Lucolándia.