sábado, 1 de março de 2014

"Foco, foca, faca, fica."

Eu estava entrando no banheiro com uma cara meio entristecida, queria dar um mijão e voltar pra cama, deitar e dormir mais um pouco, era uma da tarde de um sábado que tinha tudo pra passar em branco na minha vida, mais um daqueles dias que a gente insiste em perder como se fosse um milionário torrando fichas em um cassino em Las Vegas só pela diversão de perder um dinheiro que não vai lhe fazer falta. Mas no fim da contagem os dias acabam por fazer falta, porque apesar do que diria Super Sam, tempo não é dinheiro. Enquanto eu caminhava em direção à privada para dar aquela urinada matinal, com minha cara tristonha, eu passei pelo espelho do banheiro e posso jurar pra vocês que ouvi um “Hey, psiu... Ou, idiota!” e quando olhei pro espelho tinha alguém lá dentro! Alguém muito parecido comigo, diga-se de passagem, mas sem a cara tristonha. Na verdade, ele tinha uma cara meio maligna, não parecia ser uma versão muito boa de mim não. Mas tudo bem, conhecendo minha cabeça como eu bem conheço, sabendo que existem outras versõesde mim mesmo pairando por ai em universos paralelos e tendo em mente que o espelho é um dos principais portais de transição entre um mundo e outro, parei pra ouvir o que aquela criatura tinha a dizer...

“Qual teu foco?!”

“Oi?!”

“Qual teu foco?! Onde você ta focando?!”

“Na faculdade, não?!”

“É... Era pra ser né? Porque essas cara de tristeza, onde ta seu pensamento?! Olha as coisas que você escreveu ontem logo que chegou em casa, ainda estão abertas no word, paradas lá e você sabe que não vai publicar nem enviar aquilo pra ninguém.”

“Não, eu ia...”

“Não, não vai! E eu vou te explicar o motivo... Aquilo ali nada tem a ver com a faculdade, com seu futuro estágio, com as contas que você tem a pagar ou com o futuro do seu lado emocional. Aquilo ali é desperdício de tempo e energia. Para de perder tempo e energia com algo que não vai te trazer retorno algum. E nem me venha com seu discursinho babaca sobre você ser um merda, ou aquela patifaria de ‘mimimi eu sou uma pedra.’, etc. etc. Eu sou você, acredite em mim, eu sou você, e eu sei o que se passa ai dentro. Você está de novo queimando seu amor próprio a troco de porra nenhuma. E você sabe qual o catalisador disso. Cadê seu foco?”

“Faculdade...”

“Faculdade, meu caro. Faculdade. Você não pode, nem deve, se desgastar emocionalmente. E você sabe que sua emoção sempre vai falar mais alto que qualquer instinto ou raciocínio. Você é quase puramente emocional. Agora, use isso pro seu bem e não pra ficar com esse masoquismo emocional escroto que só te serve pra escrever páginas e páginas de textos tão ruins que nem sua mãe iria gostar de ler.”

“Ta... Eu vou mudar o foco.”

“Isso. Agora mija ai em paz e não deita não que você tem um livro e o todo o conteúdo do seu grupo de trabalho pra ler, além de ter que organizar o quarto, passar e lavar roupa e fazer comida. Ajusta seu foco, parceiro. E para de perder tempo.”

Juro que saí do banheiro meio sem entender o que tinha acontecido, achando que talvez fosse efeito de algum narcótico, mas ai me lembrei que eu não estou bebendo nem álcool, quem dirá algum tipo de droga que me faça alucinar comigo mesmo no espelho do banheiro. Voltei pro quarto, sentei na minha cadeirinha e fiquei uns cinco minutos tentando entender o que havia acontecido. Ai desisti de tentar entender e fui ler...