Mas enquanto eu não entendo, eu escrevo. E lá vamos nós de novo...
Para aqueles que não acompanham minha vida, neste lindíssimo final de semana que o senhor Deus nos deu, fui para Santos. Não, não fui para Santos pegar um bronze na praia tomando água de coco e comendo camarão. Fui trabalhar em Santos, em um evento universitário que prometia ser o maior do Brasil, uma micareta fora de época, com show do Jammil e mais meia dúzia de bandas que cobram mais barato para fazerem shows fora de temporada. A minha incompreensão já começava por ai, pra que pagar um valor relativamente alto para ouvir Jammil, Inimigos da HP, Mumuzinho e outros pagodes/axés/funks/sertanejos universitários? Esse é a primeira coisa incompreensível.
Mas ok, lá estávamos nós. Fui escalado para trabalhar no bar, servir cerveja, ouvir reclamação, sorrir, acenar, dançar e ser feliz! E se tem algo no qual eu sou bom é isso, trabalhar em bar de festa... Sério, sem autopromoção, eu sou bom nisso. É o tipo de trabalho que eu realmente gosto de fazer, independente de estar com as pernas doendo depois de quase dez horas andando pra lá e pra cá e já ter perdido a sensibilidade das mãos por causa do gelo eu ainda dava risada da cara dos outros, fazia piadinha com cliente, enfiava a mão mais fundo no gelo pra pegar as cervas mais geladas pra galera, pelo simples fato de compreender que o bar é o coração da festa e a nossa função é vital. É o bar que bombeia o álcool e mantem a festa em movimento, já vi festas acontecerem sem seguranças, sem som, sem strippers, mas sem bar? Nunca.
E se tem algo que me diverte é perceber que eu sou parte da engrenagem que faz algo funcionar e talvez seja por isso que eu tenho esse tesão semi incontrolável por trabalhar em eventos, pelo simples fato de que evento dá trabalho, acontecem coisas imprevisíveis, é gente querendo dar calote no bar, é gente querendo invadir a festa, é vômito no chão, é cerveja que esquenta, é freezer que vaza e no meio disso tudo está você correndo de um lado pro outro. E é isso que te faz sentar doze horas depois em uma cadeira de plástico, ver aquele cenário apocalíptico de fim de festa e pensar "Fui um dos responsáveis por isso!" e o sentimento que isso dá, só quem organiza ou trabalha em evento já sentiu.
E independe do evento. De casamento à suruba, de micareta à Campus Party... É sempre divertido. Na verdade, quanto menos organizado melhor, quanto mais bucha sobrar, quanto mais coisa pipocando ao mesmo tempo, mais problemas, mais caos, melhor.
Mas voltemos à minha indignação... Ontem, eram quatro da manhã quando encerramos o bar e eu pude por fim sentar e respirar. Acontece que eu estava explodindo de energético, tomei praticamente três litros daquilo sozinho, as mãos estavam trêmulas, o coração parecia uma britadeira batendo no peito, o corpo inteiro acelerado, o cérebro a milhão, parecia que tinham plugado um cabo 440 volts no meu toba e ligado.
E quando sentei comecei a analisar a situação ao meu redor. Pessoas feias (sim, feias e foda-se você que acha que isso é preconceito), que pagaram caro para ir em uma festa com som ruim e bebida cara (cinco reais a cerveja, nem nos puteiros que eu frequentava quando morei na Prússia era tão cara). No final da festa haviam incontáveis poças de vômito, meia dúzia de bombados sem camisa dançando como se fossem panicats e mandando cantada de pedreiro nas mulheres e muita, mas muita, gente feia.
E ai eu comecei a pensar... O que me diferenciava daquele povo? Por que eu não via motivo algum naquilo? Por que eu achava que aquilo tudo não fazia o mínimo de sentido? Será que é difícil demais perceber que se você se juntar com os seus amigos e cada um der o valor da entrada da festa vocês dão conta de fazer algo muito mais top e com menos risco?
E nada me diferenciava de ninguém ali! Todos tinham dois olhos, dois braços, pernas, olhos, boca, nariz, cérebro. A grande maioria era da minha idade ou um pouco mais velho, todos da minha geração e da mesma "camada social". E acredito que todos ou quase todos ali frequentam uma universidade, tem pai e mãe... E eles são maioria. O que me fez pensar que o problema era comigo... Afinal de contas, todo mundo se diverte em micareta, todo mundo adora beijar vinte e cinco meninas e depois ir pra casa com saliva - e porra - da festa inteira na boca. Isso é normal.
Estranho sou eu que sou monogâmico, velho, chato, ranzinza, falo sobre amor, ouço música lenta e prefiro ficar em casa jogando à ir pruma micareta. Estranho sou eu que prefere passar o final do semana do lado dos amigos nerds tetudos matando dragão à ir prum baile funk.
Estranho... Muito estranho. Mais estranho que o Foucault enrabando um ornitorrinco macho no meio de uma orgia paralela à um culto satânico de invocação do Exu Cachaça com a finalidade de extinguir todas as minhocas de Chernobyl para evitar que o Ronald McDonald as usasse em experimentos sangrentos para criar novos hambúrgueres mais suculentos e saborosos que a carne de calangos alimentados com cadeiras voadoras do terceiro milênio em um planeta distante com a gravidade negativa e macacos roxos de cabeça calva portando armas de raio laser e jetpacks batalhando com dinossauros aquáticosdevoradoresdetubarõesnegrosfantasiadosdetubarõesbrancosasedijloauscitoeuinotabilumanoitucaietocarieohujilabotanicoesttogheteronthetableeverybodyagentecomeesediverteesefodeedinossauroeetcetodomundojuntoveryalegrealie...