Conversas rápidas, uma tensão estranha no ar e parece que vai ser sempre assim. Tenho certeza de que existem e-mails meus na sua caixa de entrada e eu sei que você os leu, também sei que não responde por medo.
Não é ódio, raiva ou qualquer outra coisa, é só medo.
Eu quase sei o que você sente, eu quase sinto a mesma coisa e são esses "quases" da vida que fizeram a nossa história, o tempo passa, as pessoas passam.
Eu finjo que não sei quem você é enquanto você finge que não quer me ver; e vive a sua vida.
Mas no fim, as coisas voltam pra onde estavam, a vida é um maldito ciclo e a gente sabe bem disso. Passamos por isso, várias vezes. O que restou hoje foram fantasmas, é o que somos, um assombra o outro de vez em quando, geralmente um assusta o outro e o outro foge pra depois voltar quatro ou cinco vezes mais assustador e nesses casos assustador se entende por encantador. Eu fujo, brinco, corro, morro de medo e de repente eu percebo que você conseguiu, enfim, neutralizar a sua vida, ai é a minha vez de voltar e começar a te assombrar.
A técnica é sempre a mesma: sutileza.
Chego perguntando sobre o meu livro que está perdido há séculos em algum canto da sua casa, me interesso pela sua família, sua vida pessoal. Antes era mais descarado, um chegava no outro dizendo exatamente o que queria, hoje a gente finge existir uma impassibilidade entre nós, criamos um jogo.
Mas vai ser sempre assim, eu vou te assombrar pra sempre, amanhã ou daqui setecentos anos e você sempre será um estorvo pra mim em algum momento. Ou algo bom. Eu serei sempre aquele ser estranho que surge do nada só pelo prazer de te assombrar. Seguiremos assim, pra sempre. Dois fantasmas.
Eu lembro quando tínhamos casa, carro, até mesmo filhos. Planos. Um futuro feliz. Mas hoje a única coisa que eu espero de você é poder um dia te encontrar pra gente dançar ao som dessa música:
Não espero muito mais de nós dois.