Seguinte, eu não estou puto nem estressado, nem revoltado ou com problemas mentais maiores do que os de sempre e esse amontoado de palavrão nas quatro primeiras linhas foi só pra descarregar mesmo, agora eu começo a escrever, centralizo o texto, acerto a fonte, mudo de Dream Theater para Cássia Eller, sento, respiro , aperto o enter meia dúzia de vezes pra dar espaço... E começo:
Era uma vez - e todo conto de fadas começa
com essa frase - um casal feliz. Não muito diferente de qualquer outro casal,
ele não era mais bonito do que a maioria e ela não era mais sensual que a
maioria, a característica mais marcante dele era a cor da barba, um ruivo
estranho que brilhava no sol e ela tinha por característica marcante a
personalidade, forte, batalhadora, o tipo de mulher que era mulher antes mesmo
de nascer, o tipo de mulher que nem todo homem quer ter ao lado, mas que sabe
fazer o seu homem se sentir o homem mais feliz do mundo. Mesmo que seja por um
curto espaço de tempo.
Era um casal feliz e é aqui que entra a
parte mais importante disso tudo, eles continuam sendo felizes, só deixaram de
ser um casal.
Em um belo domingo de pouco sol e um clima
ameno, ela resolveu dar um passo a frente, ele resolveu ficar. Ele era uma
pedra, fixo, imutável, seco, o tipo de ser humano que não se mexe quando a maré
bate, o tipo de ser que fica parado mesmo sob condições bem adversas. Uma
pedra.
Ela era uma espécie de cruzamento de borboleta com rinoceronte e sabia ir da leveza de um para a brutalidade do outro em questão de segundos, era leve e voava em volta da pedra, vez ou outra dava umas porradas pra ver se ela saia do lugar, mas os empurrões não resultavam em nada muito digno de nota.
Ela era uma espécie de cruzamento de borboleta com rinoceronte e sabia ir da leveza de um para a brutalidade do outro em questão de segundos, era leve e voava em volta da pedra, vez ou outra dava umas porradas pra ver se ela saia do lugar, mas os empurrões não resultavam em nada muito digno de nota.
Em um belo domingo de pouco sol e clima
ameno ele percebeu que a sua capacidade de fazê-la feliz havia diminuído
drasticamente nos últimos dias e ela percebendo que ele havia sentido isso lhe
olhou no fundo da alma e disse: "Precisamos conversar." ele já sabia
o que viria em seguida, era óbvio de mais, era o fim, mas não o ponto final,
era só o fim...
E acabou, da mesma maneira que começou,
sem que ele ou ela percebessem onde ficava a linha que determinava o início ou
o fim, sem que eles ao menos tivessem chance de lutar contra isso, o fim passou
e veio rápido, não acertou nenhum nem outro, simplesmente submergiu os dois e
quando eles pararam pra pensar já tinha ido, já tinha acabado. Ele pegou a
última batata frita do prato, ela sorriu e eles sabiam que no dia seguinte as
suas vidas seguiriam praticamente da mesma forma que havia seguido na semana
anterior, a diferença é que agora não haveria mais mensagens ou ligações às
seis da tarde, os apelidos carinhosos naquele momento começaram a se desfazer,
pairaram no ar.
Eles partiram como faziam todo domingo, ela olhou
pro hamster e ironizou: "É Frodo, relaxa, mamãe vai comprar cigarro e já
volta..." e ele riu sabendo que seria triste caso o hamster entendesse
isso, pois ficaria esperando pela volta da mãe mesmo sem amá-la - o que de fato
é verdade, o hamster não a amava muito mais do que amava a serragem da sua
gaiola.
Ele riu, era o que restava, era o que
tinha praquele momento, era o que dava pra fazer. Segurar ia adiantar? Abraçar,
chorar, gritar, dizer que não, ajoelhar... Nada disso ia resolver e ninguém
naquela sala tinha a intenção de tentar resolver. Nem o hamster.
E eles partiram, como em todo domingo. Ela
reclamou do frio, ele a abraçou e quando o ônibus chegou ele pôde ouvir um
"Tchau amor, até amanhã." e sorriu um pouco por fora enquanto sentia
metade do mundo dele se deslocar...
Ontem...