Eu estava aqui, de boa com o meu violão no colo e aquela loucura mental de:
"Vamos lá Lucas! Começa pela mizinho... Casa um é que nota? Fá! Isso garoto, dois? Fá sustenido!
"Vamos lá Lucas! Começa pela mizinho... Casa um é que nota? Fá! Isso garoto, dois? Fá sustenido!
Três? Sol! Quatro? Sol sustenido oras, óbvio... E a cinco? É La meu subcosciente, é La... Ok então, você esta ficando bom nisso, já quase decorou a mizinho, agora faltam só mais quatro!"
E no meio dessas operações de mapear o braço do violão eis que pula uma janela no msn dizendo:
"Kasasco! Ta ai porra?!"
"Sim, estou..."
"Mano! Qual era o nome daquele programa que a gente usava pra jogar Magic?"
"MWS, só lembro a sigla..."
"Ah! É Magic Work Station! Isso!"
"Isso! Gênio!"
"Porra! É tudo pago esse caralho agora... E olha a data de update, é de 2005..."
"Perai, tu quer dizer então que a gente jogava Magic há cinco anos atrás?"
"Ou mais, a gente parou de jogar antes da última versão do MWS..."
"Caralho bicho..."
É, e foi isso que me inspirou a escrever...
Sabe, o tempo passa e a gente não vê. Meu intercâmbio acabou já, faltam seis dias pra mim voltar pra casa e segundo minha irmã até parece que foi ontem que ela viu esses dois olhos enormes preenchidos pela imensa vontade de descobrir coisas novas dando tchau pra família e entrando no portão do aeroporto de São Paulo.
A nossa noção de tempo é algo complexo, ele simplesmente flui e você nunca perde ou ganha você simplesmente passa por ele.
É claro que a cada dia que passa estamos mais próximos da morte e isso é algo que devemos pensar sempre, lembrem-se que depois de esquentar a mão a água fria fica mais fria, depois de sentir o cheiro de um peido qualquer perfume da Avon fica mais cheiroso e depois de uma boa briga o sexo se intensifica... O mesmo acontece com a vida, se a gente vive sempre percebendo que podemos morrer, e em certo ponto forçarmos um pouco a barra pra provar isso mais de perto, a vida fica mais intensa. Eu digo e levo na prática na medida do possível...
Se você me chamar pra nadar com tubarões, eu vou. Se você me chamar pra pular de paraquedas eu dou um tapa nas tuas e grito: "O último que chegar é mulher do padre!" e vou também, se você me mandar matar uma aranha de seis metros de diâmetro eu vou é sair correndo e chamar minha mãe, afinal de contas correr risco é uma coisa e enfrentar aranhas é outra completamente diferente.
Mas não é sobre tempo que eu vim falar... Na verdade é um pouco sobre tempo mas o que eu quero tratar aqui é sobre a influência desse monstro chamado tempo nas amizades.
Eu digo isso porque houveram pessoas, igual esse louco ai que veio me perguntar o nome do programa pra jogar Magic, com quem eu falei pouco desde que eu cheguei aqui mas que eu sempre soube que estava me "vigiando" é como se você soubesse que mesmo sem estar se comunicando com a pessoa diariamente em um caso de necessidade ela vai te ajudar.
São anjos da guarda que me são invisíveis devido à distância a qual eles se encontram mas que vão me encarar nos olhos e dizer: "Porra moleque, eu tava com saudade de você!" quando eu voltar e isso vai ser mais intenso do que muito: "Lucas! Eu to com saudade! Você volta quando?" que eu vivo recebendo via orkut, e-mail e etc.
E ai sim entra a questão do tempo... Eu tenho amigos que são de uma época tão remota que a memória até falha quando eu olho pra trás...
Com esse cara ai eu comentei na mesma conversa que nem parecia mas a mais de cinco anos atrás estávamos reunidos em uma mesa no fundo da casa dele e ele me explicava como funcionavam as classes do D&D (se você é um ser humano 100% então você nunca vai entender o que eu disse.) enquanto o irmão dele servia um tereré gelado pra gente e um outro amigo nosso terminava de completar sua ficha.
E de pensar que por longas tardes de sábado o D&D foi minha maior diversão e quando eu voltar com certeza vai continuar sendo, eu ainda tenho amigos que tem a imaginação mais fértil que a minha e que quando se juntam comigo acabam saindo do patamar de simples seres humanos e se transformam em grandes guerreiros a caminhar por ai e matar monstros, pelo período de uma tarde de sábado só. Ai ai, eu olho pra trás e fico naquelas lembranças bestas das idiotices, do Homem que nasceu velho, da vaca furtiva, do casco de tartaruga gigante, do elfo que caiu da árvore direto na poça de barro, do gênio milionário que ficou preso no elevador e esqueceu que dava pra escapar pelo teto e mais um monte de coisas retardadas que só acontecem com quem joga RPG e tem imaginação suficiente pra não só falar e entender como também interpretar e até mesmo visualizar as cenas.
Eu tenho saudade disso, de sentar com eles em uma mesa ao som de alguma banda de Power Metal, geralmente Rhapsody of Fire, e rolar dados e anotar coisas e perguntar coisas e resolver enigmas e matar monstros e no fim da tarde me sentir de novo aquela criança de doze anos que rolava no chão enquanto gritava junto à voz do Raulzito que saia da caixas de som: "O Diabo é o pai do rock! Diaaaaaaaaaaaabo! Foi ele mesmo que me deu o toque... Enquanto o Froyd explica as coisa o diabo fica dando toque." ou "É o rock das aranhas! É o rock das aranhas! Vem cá mulher deixa de manhã minha cobra quer comer sua aranha!". Mas eu só fazia isso sozinho em casa jogando meu Tibia às três ou quatro horas da tarde naquele calor louco com um ventilador ligado virado diretamente pra mim.
O post ficou grande de mais, odeio isso. Eu vou escrevendo e escrevendo e escrevendo e não paro, é estranho...
Então, esse post é um oferecimento à uma turma de amigos os quais eu não vejo mas que pretendo ver em breve e até ir pra Campo Grande passar um tempo com eles ou descer lá pra Alfenas pra passar uma semana com o ex-gordinho.
Rodrigo, Poke, Burgatt, Murilo (Cabeça), Luiz e Deny. Valeu ai...
Lucas Casasco, um brasileiro em Taiwan.