Pode ter sido ele quem me colocou ai dentro mas foi daí que eu saí. Foram os genes dele que me determinaram como macho mas foi a sua criação que fez de mim um homem, ou o mais próximo disso possível.
Foi ele quem me ensinou que mulheres deveriam ser bem tratadas mas foi você quem me explicou o que isso significava e envolvia o carinho, o amor, a paixão, o respeito e claro, a pegada.
Ele me ensinou a balançar a cabeça enquanto ouvia Guns ou Dire Straits, você me ensinou que não havia problema algum em chorar enquanto o Tim Maia, o Renato Russo ou o Cazuza cantavam.
Ele me ensinou a jogar Xadrez, explicou que o cavalo andava em L e que o pião só andava pra frente. Você me ensinou o jeito certo de segurar as coisas pra cortar, o jeito certo de se ralar uma cenoura, como temperar um bife, como estender roupa no varal, contornar desenhos e a ter paciência.
Ele me ensinou a carpir o quintal, a mãe dele me ensinou a subir no telhado, você ficou brava com ela e hoje eu entendo a sua super proteção.
Você em contrapartida me ensinou que o rio era malvado e podia me afogar, mas não me empedia de nadar, disse que beber fazia mal mas que tomar umas de vez em quando não matava ninguém. Disse que o cristianismo era sua escolha pra mim mas que se não quisesse acreditar em Deus ou Bíblia ou qualquer outra coisa que fosse, era minha escolha e o que viesse estava de bom tamanho. Você desde sempre me preparou pra voar, ele me preparou pra entender as coisas que eu veria no céu.
Com o passar dos anos essa mistura foi se completando e de repente eu me ví surgir sendo mais vocês do que eu mesmo. Sendo apaixonado por Rita Lee e alguém que gosta de história da arte ao mesmo tempo que gostava de Guns e artigos sobre publicidade.
Cresci ouvindo vocês conversando sobre filmes e nunca entendendo nada. É claro que hoje eu continuo sem entender, mas as lembranças são boas.
Me lembro até hoje do dia em que vocês estavam assistindo Hannibal ou Predator ou algum românce policial e eu era novinho de mais pra compreender quaisquer coisas que fossem mais do que o desenho do pateta ou Aristogatas ou os comandos da minha nave espacial imaginária.
De qualquer forma, eu era novo de mais para compreender qualquer coisa que fosse mais complexa do que o desenho do Pato Donald ou Toy Story e mesmo assim teimava em ir pra sala pra assistir o filme com vocês e, óbviamente, era tirado da sala e arrastado pro quarto e eu insistia em voltar engatinhando ou rastejando de alguma forma que vocês não me percebessem.
Naquela epoca eu era meio influênciado pelos Power Rangers ou por algum outro grupo desse tipo e achava que tinha super poderes ou camuflagem ou invísibilidade mas no fim vocês me descobriam e lá ia eu voltar pro quarto com cara de cachorro sem dono.
Agora eu estou em Taiwan, a criança que um dia esteve nos seus braços, que um dia rasgou seu vestido em público, que dava showzinhos de infantilidade quando mais novo e te fazia passar vergonha. Agora essa criança está a mais de dez mil kilometros de você e sofre com isso mais do que deveria. Deitar na minha banheira em posição fetal e chorar de nada vai adiantar, isso não vai me fazer voltar pro Brasil teletranspórticamente e sabendo disso o que me resta é escrever. É colocar todas as coisas que me passam em mente aqui no blog e torcer pra que você leia. No fim eu sei que, apesar de estar se matando de trabalhar nos seus projetos da escola, você vem aqui da uma lidinha de dois em dois dias pelo menos.
E ai vem o motivo pelo qual eu resolvi escrever isso aqui, é pra agradecer. Falta um pouco mais de uma semana pra mim ir embora e eu resolvi começar os agradecimentos por você.
Durante esse ano as coisas foram se reencaixando, eu passei a encarar a vida de uma forma bem diferente da que eu encarava. Ainda sou um vagabundo, ainda teimo em não estudar, ainda teimo em dormir até meio dia em dia de domingo. Mas acredite em mim quando eu disser que eu mudei, foram detalhes pequenos mas que fazem uma diferença incrível. Detalhes os quais me seriam muito úteis se fossem mudados a uns meses atrás.
Agora eu volto pra casa, volto com orgulho no peito de ter sobrevivido por meses a fio sem você. Sem ter alguém pra me perguntar quase diariamente: "E esse coração ai, como anda? Ocupado pela mesma pessoa ainda?" ou querer saber com quantas meninas eu fiquei depois que eu voltava de alguma festa e lá estava você plantada em frente à tv assistindo corujão.
Passei o carnaval e é o carnaval que me mata. É no carnaval que eu lembro de te ter como companhia às quatro da manhã pra ir comer pastel na feira em frente de casa.
Outra coisa que me é fulminante é o ouvir o barulho da máquina de lavar roupa e saber que não é você que está lá eu que eu não vou ouvir um grito de "Lucaaaaaas! Vai lá no banheiro e trás o sexto de roupa suja pra mãe!"
Essa semana eu estava organizando a mala e em meio a várias coisas estava lá uma bolsa com uma meia dúzia de coisas, entre essa meia dúzia de coisas lá estavam as camisinhas que você enfiou na bolsa enquanto eu dizia: "Pra que isso? Não vou precisar, você me conhece." e você respondia que eu não sabia o dia de amanhã, que eu podia muito bem trombar com uma aeromoça tarada por meninos mais novos e você não queria ser avó tão cedo.
Lá fora caí uma chuva fina, bem fina e quase imperceptível. Aqui dentro a chuva é mais grossa mas é interna, não me permito chorar em público. No fone toca Rocket Man.
Nos últimos meses nós não nos comunicamos muito, eu sei. Mas somos mãe e filho, não precisamos nos comunicar pra saber o que o outro está sentindo, pra saber como o outro está.
Somos mãe e filho e eu só fui me tocar disso a pouco tempo atrás.
E ai você deve estar se perguntando: "Poxa, meu filho é meu filho há dezessete anos e só foi percebir isso agora?"
É... Eu sempre te ví mais como amiga do que mãe, você sempre foi - apesar de todas as outras - a minha melhor amiga. Você sempre sabia de tudo antes de todo mundo, às vezes até mesmo antes da Ana Luiza.
Você foi quem mais me ajudou nas minhas fases mais críticas, você sempre me apoiava, sempre me dizia pra não ligar muito pro que estavam dizendo a meu respeito. Eu sabia que eu era e isso bastava mas você fazia questão de reforçar isso e várias e várias vezes expor a mim as minhas fraquezas, algo que a Ana também faz com maestria mas você é mãe, tinha toda uma porrada mais forte.
E aqui em Taiwan não foi diferente. Você sempre se preocupou comigo durante todos esses meses e mesmo afastado eu podia sentir a sua preocupação e mais do que isso, seu amor.
Agora é minha vez de agradecer e eu só posso fazer isso com palavras. Me arrependo profundamente de não ter passado mais tempo contigo no passado, mas agora eu volto ao Brasil e terei tempo ainda. Você ta novona, ainda nem chegou nos cinquenta ou seja eu ainda tenho muito tempo pra te ajudar a estender roupa no varal, temperar o porco do natal, cuidar do jardim da futura casa eticétera e tal. Vai viver nada nada mais uns cinquenta e acho que é tempo suficiente pra ficar ao seu lado.
Valeu gordinha... Eu te amo, e acho que nunca quis dizer isso com tanta ênfase como eu estou dizendo agora.
Eu te amo mesmo mãe, de todo o meu coração e cérebro.
Beijos beijos.
Lucas Casasco, aquele com saudade da mãe em Taiwan.
Gente, preparem seus corações, meu intercambio está acabando e o blog vai com ele.
É claro que eu não vou parar de escrever por que isso virou vício, mas eu criarei outro Blog. O "Um Brasileiro em Taiwan" vai ficar vivo, mas parado por aqui, e eu espero encontrar outros brasileiros que estejam em Taiwan entre 2010/2011 para continuar isso que eu comecei ou eu vou mudar o nome do blog e tocar tudo por aqui mesmo deixando as coisas velhas arquivadas ali pra quando der saudade.
Esses são meus últimos dias por aqui e daqui até o dia de minha volta eu publicarei posts agradecendo às pessoas que me ajudaram ao longo desses meses.
Esses posts foram escritos ao longo dos meus últimos meses aqui mas só estão sendo postados agora por questão de lógica.
Taiwan - 03/06/2010.
É claro que eu não vou parar de escrever por que isso virou vício, mas eu criarei outro Blog. O "Um Brasileiro em Taiwan" vai ficar vivo, mas parado por aqui, e eu espero encontrar outros brasileiros que estejam em Taiwan entre 2010/2011 para continuar isso que eu comecei ou eu vou mudar o nome do blog e tocar tudo por aqui mesmo deixando as coisas velhas arquivadas ali pra quando der saudade.
Esses são meus últimos dias por aqui e daqui até o dia de minha volta eu publicarei posts agradecendo às pessoas que me ajudaram ao longo desses meses.
Esses posts foram escritos ao longo dos meus últimos meses aqui mas só estão sendo postados agora por questão de lógica.
Taiwan - 03/06/2010.