quinta-feira, 22 de julho de 2010

"E o fim chegou. Ana."

"Será que a sorte virá num realejo? Trazendo o pão da manhã a faca e o queijo. Ou talvez um beijo teu que me impreste alegria, que me faça juntar todo o resto do dia, meu café, meu jantar. Meu mundo inteiro, que é tão fácil de enxergar e chegar."

Começo então com Realejo e logo logo pularei pra O Anjo Mais Velho. Calma...
Mas vamos por partes

"Admiro o que há de lindo e o que há de ser você."
E o que há de ser você? Já fazem oito meses que eu não te vejo e eu me pergunto, o que há de ser você? Agora? Será que é ainda aquela coisinha estranha e bipolar que eu deixei no Brasil? Ou será que agora não é mais nada do que era a meses atrás? Será que você cresceu? Será que emagreceu? Aprendeu a tocar violão? Não?
Conforme o dia passa e o tempo muda eu vou vendo que eu te encontro em mim cada dia mais e mais. A distância não nos separa e o tempo de forma alguma muda o que um sente pelo outro.
Lá se foram quinze anos que eu te conheço e parece que foi ontem. Lá se foram oito meses que eu estou aqui e parece que foi ontem o beijo no rosto e o tchau, parece que foi ontem a cena de despedida, ver você com todo aquele seu tamanho com cara de choro enquanto se seguarava pra não derramar uma lágrima. Parece que foi ontem que eu te abracei na casa do Thiago e disse que te amava mais do que qualquer outra pessoa no mundo.
Parece que foi ontem a noite na qual você me maquiava e contornava de lápis preto a parte que não era pra mim tirar da barba. Parece que foi ontem que eu ouvi a frase: "Esquece essa menina Lucas, você é o cara mais foda que eu conheci em toda a minha vida." você falava isso com um ar de certeza que até parecia que você era a irmã mais velha e não eu.
Eu sempre fui aquele que pensava enquanto você era aquela que agia. Não é atoa que eu sou a cabeça e você as pernas e braços desse corpo estranho que formamos quando estamos lado a lado.
Acontece que você sempre foi o pedaço de ferro onde a minha cordinha ficava amarrada e empedia que eu, um simples balão de gás hélio, saísse voando por aí. Foi você a reponsável por me trazer de volta à realidade quando eu precisei.

"Os opostos se distraem, os dispostos se atraem."
Oposição? Você é menina e eu menino, você ouvia Kelly Key e eu já ouvia Legião, você gostava de tocar violão e eu lia os livros do Karl May e quando você começou a ler Pollyana eu já estava terminando o Código Da Vinci. Você sempre quis praia, calor e agitação. Eu sempre quis o frio da montanha e a boa e velha calma.
Sim, somos opostos e tinhamos o habito de estarmos sempre distraídos e desatentos um do outro até que caímos na real e nos disposmos a nos aproximar. Nenhuma amizade me é tão forte desde então.
E depois disso já entra "O dia mente a cor da noite e o diamante a cor dos olhos. Os olhos mentem dia e noite a dor da gente. Os olhos mentem dia e noite a dor da gente. Os olhos mentem dia e noite a dor da gente."
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente. Alguma das pessoas aqui presentes me conhecem pessoalmente e me vêem com freqüência. Levantem a mão ai!
Então, quem me vê sabe o quão retardado e feliz eu sou e mal sabe que em dias normais eu sou chato, seco e asqueroso. Tão asqueroso como uma vitamina de barata.
Existem dias os quais tudo o que eu quero é ficar sozinho e são nesses dias que a sua figura me aparece, martelando a minha cabeça.

"Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar. A cena repete, a cena se inverte enchendo minh'alma daquilo que outrora eu, deixei de acreditar."
Esse é o começo dessa música que em pouco tempo se tornou um Hino de nós mesmos.
E essa é a mais pura verdade. Sem você ai desse lado pra me segurar, pra ser meu norte, pra me orientar eu acho que não sairia do lugar aqui em Taiwan.
Enchendo minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar. Eu usava isso pra falar do amor antes, mas hoje eu uso pra falar da saudade. No fim das contas eu nunca deixei de acreditar no amor, mas eu desconfiava da existência da saudade. Até o dia em que eu me peguei chorando, feito uma criança de três anos que perde o cachorro, só por perceber que eu ia dormir em uma cama de casal sozinho enquanto tudo o que eu mais queria era ir dormir na minha cama de solteiro mas poder tirar no par ou ímpar contigo quem ia apagar a luz ou ouvir você falando: "A hora que acabar de ler apaga a luz" ou simplesmente levar pra apagar a luz e ter que colocar o livro que você estava lendo de volta na cabeceira da cama porque você simplesmente apagou enquanto lia, chegava a ser engraçado.

"Tua palavra, tua história, tua verdade fazendo escola. Tua ausência fazendo silêncio em todo lugar. Metade de mim agora é assim, de um lado a poesia o verbo a saudade e do outro a luta força e coragem pra chegar no fim. E o fim é belo e incerto, depende de como voce vê."
Preciso dizer mais? Tua verdade fazendo escola. Ninguém nos últimos anos me influênciou mais do que você. E a tua ausência fazendo silêncio em todo lugar? Em todo lugar, exatamente todo lugar, em cada canto, em cada festa, em cada fresta e em cada situação na qual eu esperava ouvir a sua vozinha irritante falando alguma coisa pra mim, e de repente; nada.
Metade de mim e blablabla. Resumo isso com quatro palavras: "Traquinas Meio-a-Meio" e não preciso dizer mais nada também porque pra bom entendedor...

E o fim é belo e incerto. Com certeza é, eu volto pra casa, o intercambio acaba e todo mundo sorri feliz à cantar o lalala.

E ai vem o refrão dessa música. E esse é um dos refrões mais pesados que eu já ouvi em toda a minha vida. É algo simples e rápido que diz: "Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você."
Não preciso dizer mais.

Então pirralinha. Tudo o que eu queria era agradecer à tudo o que você fez por mim nos últimos meses. Eu duvido que qualquer outra menina de quinze anos adiaria a própria festa só para esperar o irmão chegar. Duvido que existe um casal de irmãos tão unido quanto nós nesse mundo.
Eu te amo coisinha. Eu to voltando pra gente fazer uma dupla não-sertaneja e tocar no natal pra família.



Beijos beijos
Lucas Luiza Casasco, um irmão perdido em Taiwan.