Falei da ida, falei da volta mas não falei da montanha. Acho que agora é o momento certo pra fazer isso, enquanto toca um Nightwish e eu vejo as fotos do lugar.
As fotos falam por mim, não preciso dizer muito mas imagens não mostram tudo, nunca ví uma imagem que valesse por mil palavras.
A última coisa que eu disse foi que as vans no levaram pra cima da montanha porque os ônibus não eram fortes o suficiente. Ok.
A viagem de busão foi completamente assustadora. Tente imaginar uma estrada que mal cabe um ônibus, do seu lado direito era a beira da montanha, do lado esquerdo era um barranco. O bixinho balançava pra lá e pra cá, a neblina tomava conta do local, não se via muito mais do que cinco metros além da janela.
Foi algo bem assustador, é uma espécie de mini trêm da morte boliviano.
Mas nós chegamos sãos e salvos na nossa cabaninha, o lugarzinho onde iríamos ficar. Chegamos e já de cara começamos a subir o resto de motanha que tinha pra subir. O clima é aquele senhor clima, é frio até a alma, vale lembrar que estavamos a mais ou menos três mil metros de altura e subindo, caminhando. Subimos, subimos, subimos e subimos e no final o que nós encontramos foi uma espécie de centro de pesquisas de clima e espaço, era um lugar Spielbergiano, com umas casinhas estranhas e vários equipamentos pra lá e pra cá e uma casa maior onde ficava um telescópio enorme.
De lá nós voltamos para a nossa casinha. Essa hora foi a hora do desispero. Tentem imaginar, mais de vinte adolescentes que caminharam por mais de três horas subindo e descendo motanha, eles chegam em um chalé de madeira e tiram os seus sapatinhos porque aqui em Taiwan não se entra de sapato em casa nenhuma, não preciso dizer mais nada certo?
E pra piorar, nós chegamos varados de fome e a comida não estava muito boa não, estava fria e era comida taiwanesa. Mas não tem problema, somos intercambistas e estamos aqui pra isso.
Depois da janta a galera se reuniu em uma sala pra cantar e “fazer bagunça”. “Bagunça” entre aspas enormes porque nós eramos observados por quatrocentos olhos diferentes, não podíamos peidar em páz que aparecia alguém do Rotary dizendo que era proibido peidar.
Eu achei um lugarzinho legal – de baixo da mesa de centro – pra tirar um cochilo e lá eu fiquei por uns quarenta e cinco minutos ou mais, cochilando.
Acordei com um americano cantando alguma coisa bem retardada e ficou nisso, galera cantando no karaôke e todo mundo mostrando estar feliz e contente com aquela linda situação.
E porque não estar contente, somos vários adolescentes em cima de uma montanha maravilhosa e linda, nós amamos andar vários e vários kilometros a fio, nós andamos sentir um frio que faz com que nossas almas queiram se enfiar de baixo de qualquer cobertor, dormir no chão sempre fez bem pra coluna, não há porque estar triste, o Rotary organiza tudo perfeitamente e os rotarianos são super amáveis e eles nos adoram... .... . . .. .. . . . .
Nós queriamos alcool e putaria, isso sim. Sem ninguém pra encher o saco, sem ninguém pra ficar ditando regras o tempo todo, sem ninguém pra dizer que tinhamos que ir dormir às nove pra acordar às quatro da manhã pra ver o nascer do sol.
Mas querer e ter são verbos completamente diferentes e não estão nescessariamente ligados. Se eu tivesse tudo o que eu quero a essa hora a Monica Matos estaria chupando o meu... Ta, vocês entenderam.
E a vida segue children, a vida segue. É pra fuder o goiás.
No fim das contas foi compensante ir dormir cedo pra acordar cedo, as quatro e pouco estávamos de pé, às cinco e alguma coisa já estavamos subindo a motanha de novo mas o sol já havia nascido, mesmo assim a gente foi. Tinha um canadense suicída que subiu correndo todos os sei lá quantos kilometros e ainda passou na frente e correu mais um pouco. Esse ai baba colorido, cheira pó royal, fuma erva cidreira, sei lá.
E eu? Eu subi com o resto do povo, ai um bom pedaço ficou parado em uma pedrinha lá e não foi pra frente, eu resolvi seguir sozinho e lá fui eu ver o que aquela montanha tinha de legal pra me mostrar. Eu e a camera, só nós dois. Houveram momentos que eu tive uma real vontade de chegar bem próximo à lámina da montanha e olhar pra baixo, ou me jogar de lá de cima, as nuvens pareciam tão fofinhas, por alguns momentos eu cheguei a pensar que se eu me jogasse elas me segurariam.
Vez ou outra eu era obrigado a olhar pra baixo e certificar se eu realmente estava pisando no chão, eu estava encarando um mar de núvens na minha frente, não havia como ter cem por cento de certeza que eu estava no chão ainda, foi uma sensação bem estranha. É quase como tomar sorvete de computador às duas horas da noite de uma manhã de sexta-feira na casa de um leopardo roxo, é um sentimento bem parecido com isso.
São dez e meia, e eu estou na biblioteca, eu vou dormir aqui mesmo, tem um sofazinho me chamando. Boa noite.
Beijos beijos.
Lucas Casasco, um brasileiro em Taiwan.