Eu vinha vindo de casa até aqui de bicicleta e vinha pensando: "Tem alguma errada, tem alguma coisa errada." Mas não entendia o que era. No meio do caminho que eu fui me dar conta de que eu estava sem blusa e achei aquilo a coisa mais esquisita do mundo.
Só quando eu fui chegar aqui que a ficha foi cair e que eu fui lembrar que todo dia eu venho pra aula de blusa, mesmo em dias em que o clima não está tão frio como é o caso de hoje.
Foi ai então que eu comecei a pensar que a vida é estranha mesmo. Hoje eu acordo às sete, mais ou menos, tomo banho, troco de roupa, como alguma coisa estranha e vou pra escola, ou deixo pra comer quando chego na escola.
Sem contar com o fato de que eu venho pra cá de bicicleta.
No Brasil eu acordava cinco e meia, fazia todo um ritual de magia negra, tomava banho, acordava minha irmã e quando chegava na cozinha o café da manhã já estava "preparado" geralmente era um pão com queijo e um copo de leite com nescau ou toddy ou qualquer outro tipo de achocolatado.
Ai eu olhava pro papai e falava: "Leva a gente pra escola."
Então, é estranho isso né? Um dia você tem a sua mamãezinha pra te fazer um café da manhã, te lembrar de vestir um casaquinho porque ta frio lá fora e tem teu querido papai pra te levar de carrinho pra escola na maior mordomia do mundo, no outro dia você está pedalando de bicicleta rumo à outra escola completamente diferente, passando frio e de barriga vazia.
Nossa Lucas, mas a vida não é assim um inferno... E eu lá disse que isso é ruim? Só estou fazendo um breve comparativo. Isso é é muito bom e não ruim.
Eu acho que todo homem deve sim passar frio, o frio te desperta, o frio te acorda, te faz pensar que você está vivo e que sente as coisas.
A barriga roncando te alerta que você não é mais uma bicha mimada que tinha a opção de comer qualquer coisa à qualquer hora.
A bicicleta? A poxa, é um exercício legal.
O melhor disso tudo é você cair na real e ver que você não é Nick Fury ou o Logan, você não é Scott Summers nem Charles Xavier. Você é um ser humano como vários outros seis bilhões e poucos que vivem em um planetinha azul e que aos poucos está se desfazendo.
Não vou falar sobre frescuras ecologicamente corretas, eu to fora disso, não costumo vestir essas bandeiras, não costumo lutar por essas causas.
É isso... Hoje eu ví que eu estou vivo e isso me preocupa...
Lucas Casasco, um brasileiro em Taiwan.