Fui pra Taipei, como eu disse ontem.
Entrei no trem e capotei, eu só tinha dormido duas horas na madrugada anterior, precisava de um descancinho.
O trem parou em Yilan e foi lá que nós descemos pra pegar um busão pra Taipei.
Eu e mais um porre de outros intercambiários de Hualien e Yilan em um microonibus indo praquela delícia chamada Taipei, só que dessa vez iriamos ficar longe da cidade, iriamos pruma montanha, um templo budista.
Caminho de ida.
Na ida tudo corria bem, todo mundo conversando e falando bobagem e dando risada, o único ser que estava sério há mais de meia hora era a Alice, que estava quieta, amuada no canto dela.
Tudo bem, tudo ia indo na paz, subíamos a montanha. Curvas alucinantes, o motor do microonibus parecia que ia parar em cada subida, gritava, rugia.
Poucos minutos depois de terminarmos mais uma das curvas muito loucas a Alice levanta do banco dela de uma vez só, põe a mão na boca e faz uns gestos estranhos, eu estava lóki de presão na cabeça mas intendi o que ela queria e falei calmamente pro povo: "Ela vai vomitar."
O povo olhou alarmado assim e: "O que?"
Eu, calmo e sereno só falei "Ela vai vomitar, ela não pode viajar de carro, ela passa mal."
Começou a gritaria: "Para o onibuuuuus tio!"
Taioca é um bixo lerdo, até ele intender que era pra parar e abrir a porta a menina já tava roxa de tanto segurar o estomago, mas deu tempo, apesar do delay, deu tempo.
O cara abriu a porta e "Vruuuuuuuuuurgh!" lá se foi o café da manhã.
O mais legal foi que enquanto ela vomitava a bixa louca do Lucas que é de Yilan, o Prezotto, encostou a cabeça na janela que era do outro lado, se cobriu com os braços e falou "Não posso olhar, não posso olhar, ai meu deus, não posso olhar se não eu vomito também." uma perfeita bixa. Tchola.
Tocamos viagem, subimos a montanha e lá estava o templo. Desci do onibus, três blusas, um cachecol, boné, e os gorros da blusa na cabeça. Muito frio, do jeito que eu gosto.
Entramos e tals e ficamos de boa lá dentro do templo, nos dividiram em grupos, eu cai no grupo sete. Eramos em dois brasileiros, um colombiano e seis taiócas.
Nos agrupamos em uma mesa uma das taiwanesas deu a ideia de fazermos um joguinho para melhor nos conhecermos. Era muito simples, todo mundo ia batendo palma, ai quem começava falava "Ta djia hao, wo shi fulano, ta djia hao" o segundo tinha que falar: "Ta djia hao, fulano hao, wo shi ciclano, ta djia hao" e por ai ia. É tipo: "Oi pra todo mundo, eu sou o juca, oi." "Oi pra todo mundo, oi juca, eu sou o tião, oi" intenderam?
É, eramos em nove pessoas e eu era o penúltimo, por sorte todos os taiócas tinha nomes em inglês e isso facilitou nossa vida. Eu lembro que a primeira era a Serina, o Dash, o Lian, Diana e mais um menino e uma que eu não lembro o nome além do Juanito Jones e do Marco.
Depois do joguinho nós subimos pro quarto andar onde teve umas palestras e nós assistimos vídeos, na real quase todo mundo ficou pescando lá de sono.
Almoçamos comida vegetariana e eu falei pra mulecada que couve-flor, tofú, ovo e brócollis não era uma combinação legal, a gente sentiu o resultado quando era meia noite e uns vinte muleques se agruparam em um quarto pequeno pra dormir.
Almoçamos, descansamos um pouco e mais palestras, veio um tiozinho que era o mestre dos mestres lá pra conversar com a gente, o cara é super importante, ele é um dos representantes do budismo nas conferencias religiosas, ao redor do mundo e fundador do museu sobre religiões que tem aqui em Taiwan.
Teve uma hora que ele estava lá falando e de repente o chão começou a tremer, mais um terremoto comum, tinha uma americana no meu grupo também, agora que eu lembrei dela, chata pra caralho, mandona pra caralho, mas ela entendeu a posição dela com relação à mim quando eu to com dor de cabeça, foi legal. Deixa eu voltar pro terremoto, ela começou a gritar, eu estava quieto apoiado na mesinha, sentado no chão, com a cabeça deitada na mão, olhando pro mestre budista e pensando na vida e ela começou com os seus "oh my god, OH my god, OH MY god, OH MY GOD!" foi progressivo e muito chato e eu não aguentei, virei, olhei bem pra cara dela e com o meu tom de vóz calmo e sereno falei "Shut the fucking up! It's just and earthquake, you won't die... Stupid." Ela fez cara feia, a mulecada do grupo riu e eu voltei pra minha paz interior.
Depois disso fomos dormir, a hora que eu cheguei o quarto já fedia à asa, peido e chulé.
O trem já tava feio e fedido mesmo, subi pro "segundo andar do quarto" e ficamos lá jogando poker, entrei com 23 Nts, saí com 150 e poucos, graças a um full house. Saí e fui dormir, deitei no meu colchonete, deitei de barriga pra baixo, acho que o meu estomago ficou meio comprimido e o brocolis junto com a couve-flor e toda àquela coca-cola quente que eu havia bebido enquanto jogava poker fizeram efeito. Coitado do Juanito e do Lucas que estavam do meu lado, foi feia a coisa.
Acordamos no outro dia todos tranquilos e sossegados. Café da manhã, palestra, busão, casa.
Não tão simples assim, acordamos, tomamos café, saímos pra uma caminhada pela motanha, sobe, desce, sobe, desce, anda, ve buda, fica em silêncio, anda mais um pouco e volta pro templo. De uma hora pra outra a minha cabeça começou a doer, poucos minutos antes da hora de dividir as nossa experiencias com o resto do povo. Na noite anterior a americana muito legal preparou uma apresentação pra gente fazer, algo que envolvia meditar, caminhar em volta do povo, cantar 'We wish you a merry christmans' e outras coisas toscas desse tipo, minha cabeça doía e ela explicava pro grupo que que ia fazer.
Eu olhei bem dentro dos olhos dela e falei: "Não, minha cabeça está doendo, nós temos de três a cinco minutos, subiremos no palco, falaremos que ontem foi um dia legal, cantaremos a sua música e voltaremos pra cá, ai eu tomo um remédio e vou dormir." ela ficou meio indiganada, mas entendeu quem manda.
-.-
A gente se apresentou eu tomei meu remédio, detalhe que foi a própria americana quem deu, e fui pro quarto dormir. Não sei que que se sucedeu lá no templo mas acho que não perdi, afinal se eu ficasse eu iria sair do meu estado de paz interior e não seria legal.
Me acordaram falando que era pra me aprontar pra ir embora, isso já era umas 2 horas da tarde ou mais, almoçamos e partimos.
Na volta a Alice vomitou de novo e quando chegamos em Hualien descobri que o que o Guilherme tinha é grastrite nervosa, coitadinho.
Voltamos pra Hualien, comemos um big mac e viemos pra Yuli.
Chegando aqui eu fui pra casa mas não tinha ninguem lá, dormi na casa da Alice, não fui pra escola acordei quatro horas da tarde, tava jantando achando que era café da manhã e agora estou aqui, sentado no meu quarto digitando. Quer dizer, agora, agora, enquanto você lê eu devo estar em algum lugar entre Yuli e Hulien já que na quarta eu vou pra lá de novo pras comemorações de natal, vou ver se fico lá até segunda que vem. Divertidíssimo. Pai, prepara o bolso, vou pagar tudo no cartão, afinal o ano novo é em Taipei e essa história de que "Existem coisas que o dinheiro não compra, pra todas as outras existe mastercard." é mentira. Mastercard não paga o meu almoço na escola, não paga cachorro quente no seven eleven e outras cossitas mas.
Ta ai, outro fim de semana de muita paz.
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Lucas Casasco.
Um Brasileiro em Taiwan.