domingo, 6 de junho de 2010

"A grande viagem. Prólogo."

A grande viagem começa amanhã, é claro que bate uma apreensão. Serão quase dez dias rodando Taiwan com todos os outros intercambistas, sendo que a maioria vai embora uma semana depois que a viagem acabar.
Tentem entender a seguinte situação: Iremos rodar Taiwan por mais ou menos dez dias, somos mais de cinquenta adolescentes aloprados e longe dos pais, a maioria de nós irá embora daqui logo após a viagem.
Acho que isso já é uma bela prévia da grande viagem. Iremos dormir em hoteis todos os dias e isso me faz pensar que terei internet todos os dias, vai dar pra atualizar o blog diariamente então e falar sobre todos os dias da grande viagem.

Ok então, falei do futuro. Deixe-me falar do que aconteceu nos últimos dias e já mostrar como a Alice é má, mais uma vez.
Há dois dias atrás eu estava em casa e pedi, gentilmente, que a Alice pedisse pra mãe dela uma mala pequena porque eu ia viajar pra Yilan, que é onde eu estou agora, no dia seguinte e de Yilan eu iria direto pra grande viagem.
Sabe o que ela disse? "Liga aqui e pede."
PORRA! Ela estava a menos de quinze metros da própria mãe que, com certeza, estava na sala assistindo alguma novela taiwanesa e em vez de virar e falar: "Mãe, o Lucas quer uma mala, ele pode vir buscar?" ela simplesmente virou e pediu pra mim ligar lá.
É claro que eu respirei fundo e, fingindo que não tinha lido aquilo, repeti a minha frase.
Lá pela trigézima sétima vez ela falou: "Ta bom! Ta bom! Mas você sabe que eu não gosto disso de ficar pedindo coisa pros outros."
É... Uma coisa é pedir as coisas pros outros, a outra é pedir em nome de outra pessoa. O que ela não gosta é de fazer as coisas, isso ela não gosta mesmo.
Mas tudo bem, cheguei na casa dela, peguei a mala e voltei pra minha casa no intúito de arrumar as coisas. Me organizei e voltei pro note.

A minha intensão era só ler uns e-mailzinhos e ir dormir mas não deu muito certo não, acabei passando a madrugada toda acordado conversando.
Sete e meia da manhã e lá estava eu na estação da minha cidade com uma mala na mão direita, o violão na mão esquerda e a mochila com o notebook e a camera nas costas indo pra Yilan.
No meio do caminho eu recebo uma ligação, era o Lucas daqui de Yilan perguntando onde eu estava e dizendo que era pra mudar meu curso e seguir para Dong Shan.
Parei uma estação antes de Yilan e peguei um trêm pra Dong Shan, o foda foi que tinha trêm às dez e dez e já eram dez e nove, o trêm estava na estação no andar de baixo, peguei as minhas coisas e saí voando.
Cheguei no andar de baixo com o trêm saindo, o problema é que eu estava sobre carregado de coisas, não dava pra soltar tudo e sair correndo atrás do trêm e na hora eu nem pensei nisso. Subi a escada de novo e ví que tinha trêm às dez e trinta e oito, tirei o violão da bolsa, reafinei e fiquei na estação sentado tocando.
Não ganhei uma moeda. Nenhuma maldita moeda de dez nts que já pagava metade do ticket pra dong shan. Fui pra dong shan, cheguei lá e pá! Surpresa! O Lucas foi me buscar de bicicleta, uma só.
É nessas horas que você se sente, verdadeiramente, no interior de Taiwan. Vez ou outra a gente vê gente andando em quatro pessoas mais um cachorro em uma dessas mobiletezinhas, todos sem capacete. De vez em quando a gente cinco pessoas na mesma moto, todos sem capacetes. Mas eu nunca me deparei com um violão, uma mochila, uma mala e duas pessoas na mesma bicicleta.
O melhor foi a nossa coperação. Pedi gentilmente para que o violão pedalasse, a mala foi na garupa, o Lucas foi no ombro dela, eu fui no banco pilotando a bicicleta, minha mochila cuidava do freio e o Lucas gritava frenéticamente que a gente ia bater ou que a gente ia cair enquanto dava as direções.
"Vira a direita! Nããão! Aaaah! A gente vai cair, cuidado, cuidado! Esquerda! Esquerda! Aaaaah! Mãããe! Eu quero descer!"

Chegamos em segurança na casa dele e foi ai que eu descobri que tem pessoas que vivem em situações piores que a minha. Putamerda, o cara vive no fim do fim do fim do fim do cú do inferno do cramunhão do sul do himaláia dos templos budistas de são joão del rei da punta del leste do mundo.
Rapaiz, pensa num lugar longe. Acre? Não, menos, menos. Bixo, minha cidade é oitenta por cento arroz certo? Então, essa aqui é noventa e oito, sendo que os dois porcento são dividos em: Um porcento para a estação de trêm, um por cento pra casa do Lucas.
O cara mora em meio a um oceano de arroz. Vocês já assistiram "Sinais"? Com certeza já. Então, tentem imaginar aquilo lá mas troquem o milho pelo o arroz.
Pois é, é um lugar bem arrozado.

Lá pelas três horas da tarde eu fui dormir, estava morto de cansaço e nós já tinhamos decidido não ir para Taipei aquele dia por falta de grana e por não compensar.
Acordei pra comer e dar oi pra mãe do Lucas, dei oi, comi e aproveitei pra ir tomar banho. Tomei meu banho de boa e voltei pra cama, acreditem em mim quando eu digo que estava realmente cansado.
Onze da noite eu acordo com o Lucas conversando com a Alice no celular ai ele olha pra mim e fala: "Ela mandou te avisar que tua amiga canadense, tua amiga equatoriana e a menina que você pegou no ano novo estão todas na mesma balada que ela."
Eu que estava mais louco que os camêlos do papai noel do Uzerbaijão fiz algum som estranho que devia significar algo como: "Foda-se, eu to sonhando com a Gabriela, me deixa dormir."
Virei pro lado e voltei pro reino de Morpheus alegre e saltitante.
Acordei quatro da manhã e dessa vez foi o Lucas que fez um som estranho, acho que ele estava tentando dizer: "Dorme de novo que ainda são quatro da manhã."
Como vocês bem sabem quando nós estamos dormindo e começamos a falar é porque estamos emitindo conhecimento do nosso sub-consciênte.
É por isso que quando eu (não) durmo lá em Hualien eu fico ouvindo o Guilherme dizer coisas sem sentido como: "X, eu te amo." ou "X, eu quero casar com você." ou "Bah tchê! Que felicidade, exame de próstata de novo!" e por ai vai.
A ta, "X" é para não citar nomes.
E o nosso sub consciente é a sabedoria master do mundo, se o SC do Lucas me mandou voltar a dormir é porque era pra voltar a dormir.
Dormi até às onze da manhã e agora são quinze pra uma da tarde, já almocei e vou tirar o meu cochilinho pós almoço. Estou sem internet porque não tem wireless aqui e estou sem mouse também o que me imposibilita de jogar qualquer coisa além de campo minado e worms.




Beijos beijos.
Lucas Casasco,