sábado, 6 de fevereiro de 2010

Vocês não sabem.

Então... Estava, estava o cacete, estou. Estou em um KTV, é um lugarzinho onde os taiwaneses vem pra cantar, comer e se divertir, a principal atração é o karaokê mesmo essas crianças ficam horas aqui cantando e cantando e cantando e cantando. Então, o que me motivou a escrever em meio a toda essa cantoria é que acabaram de cantar uma musica aqui e o clipe de fundo (caralho! tem um alemão gritando "let it be" em alemão aqui do meu lado, to rindo litros) mas e então, o clipe de fundo era bem estranho e apareciam personagens que pareciam ser desses jogos virtuais conhecidos como MMORPG (Massive multiplayer online role playing game), exemplos? Tibia, WOW, Lineage e mais um porre de outros, aqui em Taiwan parece que surge um jogo novo a cada dia e todo mundo adora, adultos e jovens, velhos e crianças, todo mundo se embala na ideia dos joguinhos virtuais.
Mas não foi sobre jogos que eu resolvi escrever, foi sobre algo "maior". Enquanto eu assistia ao clipe apareceu algo na minha cabeça do qual eu ainda não tinha me tocado. Em Taiwan não existem adultos... É isso mesmo, é como se aqui fosse Neverland, a terra do nunca, o lugar onde ninguem cresce. Os adultos são mais resposáveis e só. Os gostos são praticamente os mesmos (nesse exato momento tem uma tiazinha do rotary ensinando a Alice a girar uma caneta entre os dedos como se isso fosse a coisa mais divertida do mundo) tanto as crianças como os adultos tem algo em comum nessa pequena ilha, todos são inocentes. É estranho pensar nisso mas é a mais pura verdade, é um lugar que parece ser puro, sem maldade, até os caras malvados são bons aqui, não são exatamente bons, eles tem inocência.
É como se ninguém fosse malicioso, como se ninguem pensase em coisas ruins. É estranho pensar que eu vou voltar ao Brasil e ter que conviver com assaltos, tiroteios, assassinatos e outras coisas com essas.
Vocês não sabem como é gostoso poder sentar às onze da noite em uma praça ou na estação de metrô e ligar seu notebook, acesar a internet pública que tem em todo lugar, colocar seus fones de ouvido e ficar na paz do budah curtindo uma música enquanto lê os seus e-mails.
Vocês não sabem como é gostoso poder ir a qualquer lugar e não ter que se preocupar com não poder levar as suas coisas por medo de ser roubado.
Vocês não sabem como é gostoso poder parar em qualquer lugar e deixar a bicicleta lá sem precisar trancar, sem ter de se preocupar.
Isso, além do Zhan Zhu Nai Tchá, dos Shueidjaos e de mais uma meia dúzia de comidas gostosas é o que eu mais vou sentir falta no Brasil.
Aquilo que eles falam sobre: "Taiwan will touch your heart." é a mais pura verdade, eu hoje posso dizer com toda a convicção do mundo que Taiwan tocou meu coração profundamente e que eu amo essa ilha, eu me sinto mais taiwanes do que muitos taiwaneses, só me falta aprender a falar chines fluente. Eu já amo isso aqui.
Eu pude finalmente sentir o que pouca gente tem o prazer de sentir, eu senti a real liberdade, no sentido real da palavra. Você se sente cem por cento livre, sem ter de se preoucupar com mais nada além de sí mesmo.
(Estão cantando "Dance Queen" agora, o mesmo alemão de antes e uma brasileira) Eu pretendo vir morar aqui, se Deus quiser e o diabo não impedir. Eu não quero de modo algum voltar ao Brasil, eu quero poder trazer todas as pessoas de quem eu sinto falta pra cá e não o contrário.
Nossa, eu fico me imaginando andando na praia com minha irmã, ou indo a algum nigth club com os meninos, sair pra fazer compra com a Ana Paula, ficar observando as máquinas, construções e as loucuras da publicidade taiwanesa com meu pai ou ajudar a minha mãe a cozinhar umas coisas estranhas.
É sempre bom parar de imaginar, eu estou me mantendo afastado da saudade do melhor jeito possível e eu to conseguindo. Desde que eu cheguei aqui eu acho que só parei pra chorar de saudade umas duas vezes ou três, sei lá.
Mas tudo bem, já são oito e vinte e seis da noite e eu quero ir pra casa, ainda estou em Hualien, to loco pra ir pra casa.
A ta, to digitando no bloco de notas de novo porque aqui não tem internet, triste, triste.



Beijos beijos.
Lucas Casasco, um brasileiro em Taiwan.