Acabei de ajudar meu Akon (não, não é o cantor, é meu avô daqui) a trancar a porta da sala, ele é baixinho de mais e a tranca fica lá em cima.
Ai pensei: Eu não tenho avô.
Ter eu tenho, mas mora longe e raramente nós vamos visita-lo.
Ter eu tenho, mas mora longe e raramente nós vamos visita-lo.
Meu outro avô eu nem conheci, dizem que ele e eu somos idênticos e, por isso, sinto vontade de chorar sempre que falo ou falam dele. Me bate aquela saudade das coisas que eu ainda não vi e nesse caso é uma mistura de esperança com frustração, parece que sempre que falo ou penso no Sr. Oscar ele está ao meu lado. Apesar de não te-lo conhecido tenho uma forte ligação com o velho e eu nem entendo o porque. Parece que a qualquer momento ele vai entrar pela porta da sala e dizer: "Boa tarde neto, eu fui ali comprar um cigarro, mas já voltei." Como se nada tivesse acontecido, como quem realmente tivesse ido ali, comprar um cigarro.
São nesses momentos bestas e pequenos da vida, como ajudar o seu avô que não é seu avô a fechar a porta que lembramos de burradas que cometemos todos os dias e que aos nossos olhos, por serem comuns de mais, se tornam normais e passam a serem hábitos.
Nesses momentos a gente passa a pensar e a valorizar quem esta por perto, ou quem nós gostaríamos que estivesse.
Burradas, simples besteirinhas como, por exemplo, não ir visitar a avó pra dormir mais um tempo ou deixar de ir ajudar o pai pra ficar jogando, discutir com a mãe por besteira, brigar com a irmã por não arrumar o quarto, ou até mesmo não dar comida pro cachorro.
São nessas horas, nas quais estamos sozinhos, do lado de cá do mundo, que até o cachorro faz falta, mesmo que ele tenha comido o seu sapato, ou devorado o seu celular, ele faz falta. Agora pensem, se o cachorro que destruiu as suas coisas faz falta, imagine a sua família e os seus amigos, eles não fazem falta, eles são a falta. Eles não causam saudade, eles são a saudade personificada em seres-humanos que estão longe nos momentos em que você queria que estivessem perto.
Nessas horas que estamos do lado de cá do mundo e sozinhos, um sorriso cínico faz falta, um "cala a boca Lucas" faz falta.
Nessas horas olhar pro sofá da sua casa e não ver dois capacetes, e saber que você vai ficar meses sem ouvir: "Eu tenho cara de moto-táxi, Casasco?" Faz falta.
Nessas horas pensar que o seu celular não vai tocar de tarde e você não vai ouvir alguém dizendo: "O seu porcaria, desce aqui em casa pra gente tomar 1 téra." e você vai ter a oportunidade de responder com aquela voz sonolenta de quem acaba de acordar daquilo que era pra ser uma soneca de depois do almoço que levaria 45 minutos, mas se estendeu das 12:30 até às 03:22 da tarde: "Calmaiqueujavô."
E quando você da uma acordada pra vida você chora, chora igual a uma criança de três anos quando a mãe sai pro supermercado, aquela criança que chora, que berra, que grita: "Eu quero a minha mããããe! Manheeeee! Nheeeh." E da soquinhos no chão, e grita dezenas de vezes até esgotar com a paciência da irmã mais velha que estava no quarto estudando pra passar em engenharia.
E sua respiração passa a ser alternada, entre soquinhos de vento e respiros profundos, como quem quase cai de uma peça de concreto a seis metros do chão e depois olha pra baixo e vê o rosto do pai com cara de desespero enquanto você mesmo nem medo sentiu, mas ele lá em baixo sentiu o medo por você, sentiu o frio na barriga por você.
E se desespera como quem se desespera após descobrir que a tia de setenta e oito anos caiu e fraturou a perna e poderia dali em diante só andar de cadeira de rodas, mas que você sabia no fundo que ela com aquela força de vontade incrível do Lanterna Verde, a força do Superman e a sagacidade do Batman, logo estaria andando pra lá e pra cá.
E sofre, sofre em saber que tudo passa, e que o antes já foi e o depois não vem nunca, sofre em saber que o hoje será ontem, e que o amanhã sera sempre o amanhã, escuro, sombrio e misterioso como todo amanhã.
E o coração dói, e o peito aperta como a irmã mais nova que abraçou o irmão no aeroporto antes dele embarcar pra África.
E por fim se lembra que tudo volta ao seu lugar, o difícil é encarar que o fim possa demorar uns trezentos dias pra chegar.Até quinze minutos atrás eu não precisava de nada além de um banho e um ar condicionado, eu era o Juggernaut. Agora eu vejo que o Lucas que saiu do Brasil, alegre e sorridente, feliz e contente, também sente saudade, também chora e também sofre, eu descobri e não foi pela primeira vez, nem pelo jeito mais gostoso, que eu sou de carne, osso e pele.
E é bom saber que eu tenho com quem contar. É bom saber que eu tenho em quem confiar, que eu tenho quem me estenda a mão, quem me de broncas, quem me de beijos e quem me abrace. Cada um na sua devida função, cada um com sua devida parte do meu coração.
Mas no fim, a palavra pra definir o que eu sinto por vocês, amigos e família, ainda não foi inventada, ainda não esta em nenhum dicionario, é uma mistura perfeita com a dose certa de Amor, Ódio, Paixão, Ciúme, Saudade e Esperança.
Mas agora, desliguem a música depressiva e coloquem um sambinha pra tocar.
Porque agora eu vou falar, sobre ele, o incrível, o Segundo Dia de Aula.
Acordei seis da manhã, tomei um banho e escovei os dentes, etc. etc.
Acordei seis da manhã, tomei um banho e escovei os dentes, etc. etc.
Por fim eu cheguei a escola, de bicicleta. Taiwaneses, não sabem correr de bicicleta, são piores que um rato de laboratório andando de bike. Eu no meu ritmo lesado ultrapassei, nada nada, uns cinco taiwanezinhos antes de chegar na escola e eu estava muito devagar, menos que aquilo e eu caia. Eles são muito calmos, muito serenos, a vida aqui é quase igual na Bahia.
Como quem não quer nada, tranquei a bike no bicicletário que tem dentro da escola, dei oi pra Alice e fomos pra sala.
Como quem não quer nada, tranquei a bike no bicicletário que tem dentro da escola, dei oi pra Alice e fomos pra sala.
Chegando lá, tivemos que limpar a sala de aula, passar um paninho, um rodo, uma vassoura, essas coisas. Falando sobre isso, eu gostaria de mandar um salve pro meu antigo diretor, e dizer pra ele que essa era uma ótima medida a ser tomada na escolinha, já imaginou? Todos os aluninhos reunidos limpando as portas, lavando o chão, tirando os chicletes das carteiras, etc. Seria lindo.
Fui então que descobrimos que teríamos aula de culinária chinesa hoje, só que com o terceiro ano em vez de ser com o segundo logo, a aula seria de nível mais elevado. Cheguei na cozinha e estava um cheiro insuportável de peixe e eu descobri que o prato do dia seria Lula!
Lula tio Lucas? Lula? O presidente do Brasil?
Não criançada, aquele molusquinho do Bob Esponja, aquele que tem tentáculos mas não é polvo, tem uma cabeça que parece o ET do "Independence Day", sabem qual é? Aquele que o Will Smith derruba com um soco na boca.
Lula tio Lucas? Lula? O presidente do Brasil?
Não criançada, aquele molusquinho do Bob Esponja, aquele que tem tentáculos mas não é polvo, tem uma cabeça que parece o ET do "Independence Day", sabem qual é? Aquele que o Will Smith derruba com um soco na boca.
Então, a lula é um molusco do reino dos cefalópodes.
Classe: Cephalopoda.
Subclasse: Coleoidea.
Ordem: Teuthida.
Sub ordens existentes: Myopsina e Oegopsina
Depois desse momento, Lucas Casasco cultura e depois de tomar um gole de água que a pequenininha acabou de me trazer, eu continuo a falar sobre a cozinha, o prato do dia como eu disse seria lula, lula frita com pimenta vermelha, pimenta do reino e shoyu. Alem da lula teríamos frango e uns enroladinhos de broto de feijão enrolados em uma massa muito fina e depois fritos.
O frango foi só assustado em água quente. Um dos meninos da sala, enquanto eu picava gengibre, salsinha e cebolinha, colocou a galinha em uma panela com a água fervendo e depois de um tempinho ele foi e tirou, mal deu tempo de cozinhar.
Eu cortei um pedaço e mergulhei no molho que um outro menino havia preparado com shoyu, cheiro verde, gengibre e pimenta do reino e mandei pra dentro. Normalmente, o frango é cozido inteiro e sem sal nem tempero, ele fica bem feio depois de cozido porque vai pra panela com pele e tudo depois é cortado de um jeito muito aleatório, não tem separação de coxa, sobrecoxa e peito, o corte é diferente.
No fim a comida ficou muito bonita, bem mais bonita do que gostosa, concordo, mas estava gostosa.
Eu cortei um pedaço e mergulhei no molho que um outro menino havia preparado com shoyu, cheiro verde, gengibre e pimenta do reino e mandei pra dentro. Normalmente, o frango é cozido inteiro e sem sal nem tempero, ele fica bem feio depois de cozido porque vai pra panela com pele e tudo depois é cortado de um jeito muito aleatório, não tem separação de coxa, sobrecoxa e peito, o corte é diferente.
No fim a comida ficou muito bonita, bem mais bonita do que gostosa, concordo, mas estava gostosa.
Aula de cozinha = Não gastar grana no almoço.
Depois de almoçar, vem a hora do cochilo que é quando todos dormem e eu escrevo no meu livrinho verde as bobagens que eu vou postar aqui, até porque as minhas relações com Morpheus se dão à noite e não de tarde.
O trabalho do dia foi fazer um quadro
Existe uma certa nata de seres humanos os quais tiveram o prazer de conhecer Teddy, o dragão verde. Era minha antiga proteção de tela, um desenho infantil feito por mim no paint, era muito fofinho. Foi em homenagem a ele que eu criei o Pedro, o dinossauro de pedra.
Já ia esquecendo que tivemos que lavar a cozinha depois da aula, isso é normal por aqui, usar os alunos de empregados. Eles quem estão certos, nós sujamos, nós limpamos.
Então gente, ontem eu falei com a minha família, foi massa ouvir a voz de alguém conhecido, foi legal. Skype é o que há. Minha mãe daqui é tão gente boa que ela esqueceu o ID pra conectar na net lá em casa, ai ela me levou pro escritório dela pra que eu pudesse ligar pro meus pais ai do Brasil. Depois que a gente chegou do escritório, isso já eram umas 9 da noite, ela pegou e me chamou pra andar de bike porque precisava encher o pneu da minha. Lá fomos nós encher o pneu da bicicleta que eu uso pra vir pra escola, logo em seguida passamos em casa e trocamos de veículo, pegamos as bicicletas que ela e meu pai usam pra correr e fomos andar em uma ciclovia que foi construída usando uma antiga estrada de ferro desativada.
Acho que andei até às dez horas, passamos em uma loja de produtos eletrônicos pra que eu desse uma olhada nos preços, anotei os modelos e logo logo vou passa-los pros meus assessores para assuntos tecnológicos.
Detalhes Toscos do Dia.
1 - Eles não usam Comfort nas roupas.
2 - Eles não esfregam as roupas, jogam na máquina e ta ótimo.
3 - A Alice não dorme já faz duas noites por causa de um Louva-Deus gigante que está no quarto dela.
4 - Hoje choveu, tomei banho de chuva antes de chegar na escola.
5 - Fiz amizade com uma barata, mas eu falo sobre isso depois.
Beijos beijos.
Lucas Casasco, Um Brasileiro em Taiwan.